
O plano ao qual Guilherme Derrite se dedica para amordaçar a Polícia Federal é mais grave do que parece. Assim como é diversionista a versão que hipnotizou parte das esquerdas, segundo a qual Hugo Motta foi o inventor de Derrite como relator da PEC Antifacção.
Motta é apenas o mandalete. Fez o que foi combinado com Tarcísio de Freitas e outros agregados, incluindo gente da velha direita. Chamou Derrite porque a ordem veio de São Paulo.
O tenente da Rota largou a Secretaria de Segurança de Tarcísio para fazer o serviço sujo. O plano exigia total falta de escrúpulos e o destemor de alguém com o histórico de tenente da Rota diante dos riscos previstos.
Mas Derrite falhou nas primeiras tentativas por não ter o traquejo que Brasília exige em empreitadas desse porte, nem estatura suficiente dentro da direita. Derrite não tinha talento para fazer prosperar as ideias que levou de São Paulo para a Câmara.
A pergunta que ele não responde, desde a apresentação do plano pró-facções, é a que um adolescente pode estar fazendo agora a um colega no colégio: por que atacar a Polícia Federal numa hora dessas?
A pergunta específica, derivada dessa primeira e óbvia demais, e que deve ser feita com insistência, é esta: quem Tarcísio e Derrite pretendem proteger?
Esse “quem” não é uma figura genérica. Quem do bolsonarismo, com nome e CPF, estaria ameaçado com o avanço das investigações da PF, principalmente na Faria Lima? Quem são, na real, os que precisam ser protegidos? Quantos são hoje?
A tentativa de eliminar a Polícia Federal de sua missão mais importante na atualidade é encarada por alguns setores, inclusive da imprensa, como parte do jogo da política. Não é. Não pode ser considerada um movimento normal.

Os jornalões tentaram, para usar o clichê da moda, naturalizar o esforço da extrema-direita para tirar a PF do jogo. Muitos fizeram abordagens sobre “questões técnicas” da proposta de Derrite. As questões postas não são técnicas, como não foram as surgidas nas articulações para o golpe.
Derrite tentou golpear a PF. Mas muitos entenderam, também nos jornalões, que seu plano seria a prova de que ele não entende nada de segurança.
Seria um incompetente, que sempre se dedicou a matanças, tentando formular algo muito maior e complexo do que sua capacidade de elaborar soluções para a área.
Mesmo que a cabeça de Derrite seja incapaz de compreender os problemas nacionais decorrentes das ações do crime organizado, não é disso que se trata. O que ele tentou fazer foi uma das mais descaradas jogadas políticas da direita para sabotar uma instituição.
A extrema-direita que pretende se livrar de Alexandre de Moraes — e que espera ter o controle absoluto do Senado para cercar o STF — tentou se livrar também da Polícia Federal. Não há abordagens técnicas possíveis, assim como não haveria se o fascismo tivesse sugerido formalmente que se fechasse o Supremo.
Não há equivalência de opiniões num confronto entre quem defende a integridade da PF e quem propõe seu afastamento da missão de combater o crime organizado em todo o país, sem pedir licença a governadores bolsonaristas.
Não podem ser tratados como meros pontos de vista conflitantes o projeto de Lula para integrar polícias e combater as facções, de um lado, e, de outro, o plano de Tarcísio e Derrite para desmoralizar e destruir a Polícia Federal.
Tarcísio é chefe de Derrite. Os dois sabem que, aniquilando a PF e minando a atuação da Receita e, se possível, do Ministério Público, o serviço estará quase completo. Mas quem eles protegem? Quem pode tombar no bolsonarismo se a PF continuar avançando?
A própria Polícia Federal é desafiada a dar respostas à investida das facções políticas. É o que esperamos que aconteça. Precisamos dos nomes dos que se sentem ameaçados pela PF em São Paulo.