
A Polícia Federal abriu novas frentes de investigação para apurar a venda de títulos sem cobertura do Fundo Garantidor de Créditos (FGC) a fundos de previdência estaduais e municipais pelo Banco Master, operação que rendeu ao menos R$ 1,867 bilhão à instituição, todos vindos de governos controlados pelo Centrão. A iniciativa ocorre após a prisão do CEO Daniel Vorcaro e outros integrantes da cúpula do banco, detidos por fraudes na venda de créditos ao BRB, o que causou um dia de pânico entre políticos em Brasília.
As chamadas letras financeiras negociadas pelo Master prometiam rendimento muito acima do CDI e já haviam sido classificadas como “arriscadas demais” pela Caixa Econômica Federal.
Com a liquidação extrajudicial determinada pelo Banco Central, o FGC fará o maior resgate de sua história, mas o mecanismo não cobre esses papéis vendidos a estados e municípios.
Segundo Malu Gaspar, do jornal O Globo, foi feito um levantamento a partir dos sistemas do Ministério da Previdência Social, metade do valor arrecadado com essas letras, R$ 970 milhões, veio do Rioprevidência, aplicado pelo governo Cláudio Castro (PL), apesar dos alertas sobre o Master. Governos do Amapá, Amazonas e a prefeitura de Maceió também investiram nos títulos do Master.

Todos são administrados por grupos políticos ligados ao União Brasil, partido comandado por Antonio Rueda, aliado próximo de Vorcaro e articulador da tentativa de compra do banco pelo BRB.
O fundo estadual do Rio é considerado um reduto do partido, assim como a Cedae, que adquiriu outros R$ 200 milhões em papéis. Ao todo, estruturas sob influência direta de Rueda aplicaram cerca de R$ 1,5 bilhão no Master.
O Tribunal de Contas do Rio já havia identificado indícios de irregularidade e ordenado a suspensão de novas aplicações no fim de 2023. No Amapá, o fundo de previdência também está sob influência do União, cuja maior liderança no estado é o presidente do Senado, Davi Alcolumbre.
No Amazonas, governado pelo partido, foram comprados R$ 50 milhões em letras financeiras do Master. Em Maceió, o Iprev investiu R$ 117,9 milhões; o União apoiou a candidatura à reeleição do prefeito JHC.
Parte desses negócios foi intermediada pela Planner, corretora historicamente envolvida em operações da PF, como a Greenfield, e cujo ex-sócio, Maurício Quadrado, posteriormente sócio do Master, já foi acusado de fraudes e citado em delação sobre propinas relacionadas ao FI-FGTS.
A pressão por essas vendas ganhou força após normativas do Banco Central emitidas no fim de 2023, que exigiram maior capitalização das instituições financeiras. A regra, criada sob medida para o Master, concedeu dois anos para adaptação.
Nesse intervalo, executivos do banco mobilizaram aliados políticos para conseguir vender letras financeiras a fundos de previdência estaduais e municipais, já que os fundos federais foram proibidos de adquirir esse tipo de ativo após os escândalos da Greenfield.