
Por Leonardo Sakamoto, publicado no UOL
A prisão de Daniel Vorcaro, controlador do banco Master, arrasta para a crise uma miríade de políticos com os quais ele tinha interlocução e relacionamento, do governo à oposição. Um deles, que defendeu pautas que eram de interesse da instituição financeira no parlamento, é o senador Ciro Nogueira (PP-PI). E, a depender dos desdobramentos da investigação, suas ambições para ser companheiro de chapa do governador Tarcísio de Freitas na corrida ao Palácio do Planalto podem ser contaminadas.
O banco prometia mundos e fundos aos investidores, sem ter condições para tanto. O Banco Central decretou a liquidação extrajudicial da instituição, demonstrando que a situação era considerada insustentável. Vorcaro, próximo a Nogueira, foi detido pela Polícia Federal enquanto tentava embarcar num jato privado no aeroporto de Guarulhos, na noite desta segunda (17), em meio a uma investigação que apura gestão fraudulenta no Master. Disse que iria aos Emirados Árabes para vender banco, os policiais não acreditaram.
O senador atuou nos bastidores contra uma CPMI que investigaria o Banco Master, mas também pela aprovação de uma emenda à Constituição para aumentar a cobertura do Fundo Garantidor de Crédito de R$ 250 mil para R$ 1 milhão por CPF – como apontaram colegas na imprensa. Isso beneficiaria a instituição, que estava escorando seus CDBs no fundo. O senador também apoiou a compra de ações do Master pelo BRB, banco estatal da capital federal – o que foi reprovado pelo Banco Central.

Agora, com o banco no chão e o controlador atrás das grades, toda a articulação para salvar o Master e turbinar a proteção do Fundo Garantidor de Crédito pode ser lida sob outra chave. A narrativa de que se tratava apenas de defender poupadores e a estabilidade do sistema financeiro colide com a realidade de uma instituição que vendia rentabilidade turbinada enquanto escondia, no mínimo, um risco explosivo.
Fica a sensação de que a prioridade era empacotar o problema em papel de presente institucional e empurrar a conta para o colchão público que garante os depósitos de milhões de correntistas.
A depender das investigações, o dano à imagem de Ciro Nogueira pode atrapalhar os seus planos, sobretudo numa chapa que pretende vender eficiência e responsabilidade fiscal. Tarcísio de Freitas já carrega o desafio de se equilibrar entre o bolsonarismo e o bom senso, associar-se a um banco liquidado enquanto se apura gestão fraudulenta adiciona um ingrediente tóxico à receita.