
O vice-prefeito de São Paulo, coronel Mello Araújo (PL), afirmou que há exploração política da cracolândia por parte do governador Tarcísio de Freitas (Republicanos) e do prefeito Ricardo Nunes (MDB). Em entrevista à Folha de S.Paulo, disse que seu trabalho para dispersar a concentração de usuários no centro da cidade tem sido omitido e citou irregularidades encontradas após assumir a função.
Segundo o vice-prefeito, entidades contratadas pela prefeitura recebiam recursos para manter vagas de internação ocupadas e disponíveis ao mesmo tempo. Ele declarou que, conforme levantamentos internos, algumas organizações mantinham leitos ociosos mesmo recebendo por capacidade integral. Disse ainda que a Controladoria-Geral do Município apura o caso.
Mello Araújo relatou suspeitas sobre o atendimento médico aos dependentes químicos. Ele afirmou que foram identificados “34 médicos que não iam trabalhar”, vinculados aos Centros de Atenção Psicossocial, e que pagamentos eram feitos por meio de pessoas jurídicas. A gestão Nunes confirmou a investigação, mas afirmou que não houve irregularidades no modelo de remuneração.

O coronel rebateu uma fala recente de Tarcísio de Freitas, que atribuiu o “golpe fatal” contra o fluxo à desocupação da favela do Moinho. Segundo Mello Araújo, a retirada de famílias começou após o esvaziamento da cracolândia e não teve relação direta com a dispersão. Para ele, a declaração do governador não corresponde à cronologia dos fatos.
Ele afirmou que coordenou mudanças estruturais na região desde que assumiu, incluindo maior fiscalização de contratos, acompanhamento presencial diário das equipes e reorganização das ações de saúde e assistência. Segundo o vice-prefeito, a concentração na rua dos Protestantes se dissipou em maio, antes da operação no Moinho ganhar tração.
A prefeitura e o governo estadual confirmaram que atuam em conjunto, destacando ações de saúde, assistência e segurança. A gestão Nunes citou aumento de 96% nos atendimentos no Caps criado especificamente para a região. Já o governo Tarcísio afirmou que operações de inteligência e o trabalho no Moinho reduziram o tráfico no entorno.
As duas administrações não comentaram a ausência do nome de Mello Araújo em publicações oficiais sobre a cracolândia. Em agosto de 2024, autoridades prenderam Leonardo Monteiro Moja, conhecido como Leo do Moinho, apontado como chefe do tráfico, em ação realizada antes da posse do vice-prefeito.
Mello Araújo foi escolhido por Jair Bolsonaro (PL) para compor a chapa de Ricardo Nunes na última eleição municipal. Ele afirmou que seu futuro político em 2026 será definido pelo ex-presidente, com quem mantém contato frequente durante a prisão domiciliar do aliado.