
O Tribunal de Contas do Rio (TCE-RJ) identificou uma “notável coincidência” entre a nomeação de diretores do Rioprevidência e o início dos investimentos bilionários da autarquia no Banco Master, liquidado na terça-feira (18) pelo Banco Central. Com informações do Globo.
Auditoria sigilosa revela que o fundo responsável por pagar aposentadorias e pensões a 235 mil servidores inativos aplicou R$ 2,6 bilhões em títulos ligados ao grupo financeiro desde novembro de 2023.
Nomeações e datas que coincidem
Entre julho e outubro de 2023, o Rioprevidência nomeou Deivis Marcon Antunes para a presidência, Eucherio Lerner Rodrigues para a Diretoria de Investimentos e Pedro Pinheiro Guerra Leal para a gerência de investimentos. Pouco depois, no início de novembro, começaram os aportes no Master.
O TCE aponta que a nomeação de Eucherio foi publicada no Diário Oficial em 4 de outubro, exatamente no dia em que o Master enviou e-mail pedindo credenciamento junto ao órgão — e no mesmo dia em que o Rioprevidência abriu o procedimento de análise.
Doze dias depois, Pedro Leal informou internamente que o banco atendia aos requisitos, e Antunes autorizou o credenciamento em 19 de outubro, em um processo descrito como “acelerado” e “com aparentes irregularidades”.
Investimentos, riscos e alertas
O governo do Rio afirma ter aplicado R$ 960 milhões em Letras Financeiras do Master, mas o TCE calculou que o volume total, incluindo investimentos em fundos administrados pelo banco e por sua corretora, chega a R$ 2,6 bilhões. A maior parte do montante não está coberta pelo Fundo Garantidor de Créditos. Apesar disso, o estado afirma que o pagamento de aposentados e pensionistas está garantido.
Segundo o tribunal, mesmo após emitir alerta formal em maio sobre os riscos, o Rioprevidência investiu mais R$ 1,1 bilhão em fundos geridos pelo Master entre 20 de maio e 25 de julho, período em que a crise do banco já era amplamente divulgada.
Responsabilidades e articulações políticas
Nos bastidores, as nomeações no Rioprevidência são atribuídas ao União Brasil, partido da base do governador Cláudio Castro (PL). Em resposta, o bolsonarista afirmou que escolheu Antunes pelo “seu currículo e comprovada competência técnica” e disse que os demais diretores são de responsabilidade da autarquia.
Antunes alegou ao TCE que o processo de credenciamento do banco teria começado no início de 2023 e que o Master “tinha longa e adimplente relação com o Estado do Rio”.
Na quarta-feira (19), o TCE anunciou uma auditoria extraordinária para investigar se outros órgãos estaduais e prefeituras do estado aplicaram recursos no Banco Master e se houve prejuízo aos cofres públicos. Já se sabe que a Cedae investiu R$ 200 milhões. O Tribunal de Contas do Município ainda não informou se fará levantamento semelhante na capital.
