Fundos de previdência sustentaram o Master após veto da Caixa, diz MPF

Atualizado em 20 de novembro de 2025 às 13:31
Daniel Vorcaro, do Banco Master, em debate em 2024. Foto: Rubens Cavallari/Folhapress

O Ministério Público Federal afirma que contratos firmados por fundos públicos de previdência garantiram a sobrevivência do Banco Master em 2024, mesmo após a Caixa Econômica Federal recusar a aquisição de R$ 500 milhões em Letras Financeiras da instituição. O alerta da Caixa, registrado em julho daquele ano, classificava os papéis como “atípicos e de alto risco”. Ainda assim, regimes próprios de previdência estaduais e municipais seguiram comprando títulos do banco, hoje alvo de investigação federal.

Segundo a Procuradoria, quase todo o volume de Letras Financeiras emitido pelo Master naquele ano — entre R$ 1,9 bilhão e R$ 2 bilhões — foi adquirido por Regimes Próprios de Previdência Social (RPPS). O destaque é o Rioprevidência, fundo ligado ao governo do Rio de Janeiro, comandado por Cláudio Castro, responsável pela gestão de recursos previdenciários de servidores estaduais. Para o MPF, o nível de exposição foi “incompatível” com o perfil conservador exigido de fundos desse tipo.

Cláudio Castro, governador do Rio. Foto: reprodução

A representação descreve que os títulos do Master não atraíam investidores privados, o que, segundo os procuradores, deveria ter levantado suspeitas. O relatório reescreve a conclusão da Polícia Federal e aponta que a concentração de compradores em um único grupo — órgãos que administram dinheiro público — indica rejeição do mercado e potencial risco de liquidez. As emissões foram consideradas vitais para manter o banco operando. As informações são da coluna de Daniela Lima, do UOL.

Os investigadores afirmam que a dependência do Master de capitalizações frequentes pressionava a liquidez da instituição. Por isso, a aposta dos RPPS passa agora a ser alvo de uma segunda etapa da investigação, que vai analisar se houve pressão política, lobby comercial ou intermediação de consultorias para viabilizar as operações. A Procuradoria destaca que a decisão de adquirir Letras subordinadas amplia a exposição financeira de fundos que deveriam priorizar segurança e preservação de capital.

O MPF também aponta que a concentração das compras em recursos de servidores indica possível comportamento atípico no mercado. A peça afirma que, enquanto fundos privados rejeitavam os papéis, entidades estaduais e municipais seguiram ampliando posições no Master, mesmo após o alerta da Caixa. O relatório cita que o banco já vinha sob pressão regulatória e dependia dessas emissões para manter o fluxo operacional.

Para os procuradores, o episódio evidencia fragilidades estruturais no modelo de negócios do Master e coloca em risco patrimônio previdenciário de servidores públicos. A exposição dos RPPS deverá ser analisada com mais profundidade nas próximas fases da apuração, que agora investigam o impacto financeiro, a origem das decisões e eventuais responsabilidades administrativas, civis e penais.