“Carneiros gays” são salvos de sacrifício e viram “moda” na Alemanha; entenda

Atualizado em 20 de novembro de 2025 às 17:58
Ovelhas na fazenda de Michael Stücke em Löhne, Alemanha, salvas do abate — Foto: Valentin Goppel/The New Times

Em uma fusão inédita entre moda, ativismo e tecnologia, o estilista Michael Schmidt uniu-se ao aplicativo Grindr e à organização alemã Rainbow Wool para criar uma coleção feita com lã de carneiros resgatados por não cumprirem funções reprodutivas. A iniciativa expõe um padrão comportamental observado na natureza: cerca de 1 em cada 12 carneiros é “orientado para o sexo masculino”, recusando-se a acasalar com fêmeas. Em fazendas de produção, onde um carneiro é responsável por 50 ovelhas, a não reprodução costuma ter um destino fatal.

“Essencialmente as ovelhas são mortas por serem gays”, disse Schmidt, colaborador do Chrome Hearts e estilista de celebridades como Cher e Shakira, em entrevista ao New York Times.

Chocado com a prática, ele viu na moda uma oportunidade de mudança. A parceria resultou em 37 peças de tricô, exibidas no primeiro desfile da Rainbow Wool, que Schmidt prefere descrever como uma narrativa. “É uma história sobre direitos dos animais. E é uma história sobre direitos humanos”, afirmou.

Para Tristan Pineiro, vice-presidente sênior de marketing do Grindr, a causa é profundamente simbólica. “As ovelhas gays são descartadas, esquecidas, vistas como sem valor. Mas por meio delas, duas pessoas que jamais teriam se conhecido de outra forma, um criador de ovelhas alemão e um designer de Los Angeles, se conectaram e juntos criaram algo belo”, disse Pineiro, descrevendo a iniciativa como “uma metáfora de como as pessoas gays são tratadas em todo o mundo”.

A origem do projeto está na história de Michael Stücke, 52 anos, cofundador da Rainbow Wool. Criado em uma família de agricultores em um ambiente conservador na Alemanha, Stücke assumiu sua homossexualidade aos 24 anos e saiu da fazenda da família. Anos depois, retomou seu vínculo com a terra criando ovelhas e descobriu o destino dos carneiros não reprodutores.

“Havia muita pressão. O setor agropecuário na Alemanha é bastante conservador”, contou Stücke, que encontrou na lã uma oportunidade de negócio e sobrevivência para os animais.

A ideia surgiu em 2021 em uma conversa com a amiga Nadia Leytes. “Perguntei a ele se existiam animais gays e, em caso afirmativo, o que acontecia com eles?”, lembra Leytes.

Todos os produtos da loja da fazenda são feitos com a lã das ovelhas de Michael Stücke em Löhne, Alemanha — Foto: Valentin Goppel/The New Times

Perceberam que, enquanto a produção de lã para nas fêmeas durante a gestação, nos machos ela nunca cessa. Começaram com três ovelhas resgatadas e hoje mantêm mais de 35 carneiros, com uma fiação espanhola transformando sua lã em fios. “É uma vitória tripla. A comunidade ganha, as ovelhas ganham, a fazenda ganha”, resumiu Leytes.

Schmidt, que também cresceu em ambiente rural no meio-oeste estadunidense, visitou a fazenda e criou um laço com Stücke. “Significa muito para mim que alguém tão distante, tão famoso e vindo de um mundo tão diferente esteja reservando um tempo para visitar as ovelhas e fazer algo com a nossa lã”, disse Stücke, emocionado.

Para a coleção, Schmidt explorou arquétipos gays de forma humorada e sensual, criando peças que remetem ao “garoto da piscina”, “professor de educação física” e “astro do rock”.

Todas as peças foram tricotadas manualmente com a lã dos carneiros resgatados. “As pessoas tendem a reparar em coisas que são sensuais. Elas são atraídas por isso, especialmente se houver humor envolvido. Então eu pensei: ‘Bem, essa é uma boa maneira de chamar a atenção, o que leva à história'”, explicou o estilista.

Schmidt espera que a iniciativa inspire agricultores em outros países a adotarem práticas semelhantes. “Este é o momento de defender os direitos humanos e os direitos dos animais. Estamos vivendo um período realmente difícil”, refletiu.

 

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Metadescrição: Estilista e Grindr criam coleção com lã de carneiros gays resgatados. Moda vira ferramenta de ativismo por direitos animais e LGBTQ+.

Augusto de Sousa
Augusto de Sousa, 31 anos. É formado em jornalismo e atua como repórter do DCM desde de 2023. Andreense, apaixonado por futebol, frequentador assíduo de estádios e tem sempre um trocadilho de qualidade duvidosa na ponta da língua.