O elo entre Vorcaro, Bolsonaro, Tarcísio e PCC

Atualizado em 21 de novembro de 2025 às 8:23
Fabiano Campos Zettel, cunhado de Daniel Vorcaro, dono do Banco Master. Foto: Reprodução

Deputados já discutem a instalação de uma CPI para abrir a caixa-preta do Banco Master, cuja cúpula foi presa pela Polícia Federal por liderar um esquema de fraude no Sistema Financeiro Nacional. A investigação atinge diretamente Daniel Vorcaro, banqueiro com relações políticas extensas — e um fluxo de recursos que chega às campanhas de Jair Bolsonaro e Tarcísio de Freitas.

Vorcaro circulava entre figuras-chave do poder nacional. Era amigo de Antonio Rueda (União Brasil), Ciro Nogueira (PP) e Davi Alcolumbre (União Brasil). Mas o vínculo mais sensível surge nas campanhas da direita: o cunhado do banqueiro, Fabiano Campos Zettel, despejou R$ 2 milhões na campanha de Tarcísio ao governo paulista — única doação de pessoa física recebida. Também repassou R$ 3 milhões à campanha de Bolsonaro em 2022.

Zettel é pastor da igreja Bola de Neve, advogado, investidor e empresário. É casado com Natalia, também pastora. Ele gosta de se gabar em podcasts evangélicos de seu “empreendedorismo” e sua “visão”. Calvo, tornou-se com o tempo mais cabeludo graças ao milagre do dinheiro para fazer implantes.

 

À frente da Moriah Asset, investe em empresas de “bem-estar e saúde”, como Desinchá, Les Cinq Gym, Smooy, Lojas da Frutaria São Paulo, Empório Frutaria e Néctar, Feed me up, BeOOH e Foone. Tem também investimentos diretos e indiretos, através de fundos, no setor imobiliário.

Essas conexões financeiras aparecem ao mesmo tempo em que o fundo Hans 95, ligado a Vorcaro, se tornou alvo central da PF na Operação Carbono Oculto. A suspeita é de uso de uma rede de fundos para lavar recursos do PCC por meio de operações blindadas — fundos fechados, poucos cotistas e estruturas em cascata que escondiam beneficiários finais.

A teia inclui aportes pesados no próprio Banco Master em meio à crise de liquidez da instituição. Só o Hans 95 aplicou R$ 124 milhões em CDBs do Master em 2024. Em 2025, o Astralo 95 registrou R$ 622 milhões em papéis do banco. Outro fundo ligado à cadeia, o Murren 41, movimentou mais R$ 103 milhões. Somando tudo, pelo menos R$ 849 milhões foram canalizados para o Master enquanto o banco, segundo investigações da Operação Compliance Zero, distribuía títulos “podres” criados por empresas de fachada controladas por laranjas.

A rede de fundos ainda alcança a compra da mansão de Vorcaro em Brasília. O Termopilas, parte inferior da cadeia, aportou R$ 1,65 bilhão na Super Empreendimentos — empresa sem atividade conhecida, dona do imóvel de R$ 36,1 milhões onde o banqueiro morava.

Fabiano Zettel foi diretor da Super entre 2021 e 2024. Ele nega que a empresa tivesse investimentos ligados ao fundo durante sua passagem pela diretoria, mas dados públicos mostram que o Hans 95 já dominava a maior parte do capital da Super em 2024.

A Super tem um site, sem conteúdo, só com o logotipo, cujo endereço (domínio) foi registrado por Zettel.  “Eu só invisto naquilo que eu consumo. Preciso acreditar e viver o que estou apoiando”, disse numa entrevista.