Sakamoto: Trump remove parte da “Tarifa Eduardo Bolsonaro” e lança Jair no mar

Atualizado em 21 de novembro de 2025 às 11:14
O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, ao lado de Eduardo e Jair Bolsonaro. Foto: Reprodução

Por Leonardo Sakamoto, no UOL

Após Donald Trump anular a sobretaxa de 40% sobre produtos agropecuários brasileiros, o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP) tentou desvincular o alívio parcial à negociação que vem sendo realizada pelo governo Lula. E chamou a sanção de “Tarifa Moraes”, voltando a jogar a culpa por ela no ministro do STF, relator da ação que condenou seu pai por tentativa de golpe de Estado. Compreensível, uma vez que a decisão de Trump começa a mostrar que ele traiu seu país à toa.

O próprio presidente dos EUA afirmou que as conversas com o governo brasileiro foram fundamentais para essa mudança. “Em 6 de outubro de 2025, participei de uma conversa com o presidente brasileiro Lula, durante a qual concordamos em iniciar negociações para abordar as preocupações identificadas no Decreto Executivo 14323 [que impunha tarifas de 40%]. Essas negociações estão em andamento”, apontou.

Disse o deputado hoje: “A tarifa-Moraes de 50% sobre a maioria dos produtos brasileiros é consequência direta da crise institucional causada pelo ministro Alexandre de Moraes, cujos abusos já preocupam o mundo e afetam a confiança internacional no Brasil”.

Ele pode batizar a tarifa de “Moraes”, mas, por aqui, a maior parte das pessoas que comem com garfo e faca a vê como fruto de “Eduardo Bolsonaro” mesmo.

Relembrar é viver: quando Trump anunciou o tarifaço em julho, ele foi às redes chamar os louros para si. “Nos últimos meses, temos mantido intenso diálogo com autoridades do governo do presidente Trump — sempre com o objetivo de apresentar, com precisão e documentos, a realidade que o Brasil vive hoje. A carta do presidente dos Estados Unidos apenas confirma o sucesso na transmissão daquilo que viemos apresentando com seriedade e responsabilidade”, disse em nota.

Os trabalhadores e empresários de São Paulo e Santa Catarina, que possuem nos EUA o grande parceiro comercial fora do país, devem ter se perguntado: “sucesso para quem?” Ironicamente, ambos os estados são governados por bolsonaristas que saudaram Trump e subiram gostosamente em carros de som durante atos que atacaram o STF e defenderam o golpismo de Jair.

E não foi só Eduardo quem deixou as coisas claras. “Se não começar votando a anistia, não tem negociação sobre tarifa.” Em áudio enviado no dia 13 de julho, o ex-presidente Jair Bolsonaro afirmou ao pastor Silas Malafaia que, se a anistia não fosse votada pelo Congresso Nacional, o Brasil poderia dar adeus a qualquer negociação sobre o tarifaço aplicado por Trump aos produtos brasileiros.

Ou seja, se os parlamentares não o blindassem de uma condenação e prisão por tentativa de golpe de Estado, o Brasil iria perder milhares de empregos e negócios. “Resolveu a anistia, resolveu tudo”, indicou, afirmando que, se sua vontade fosse atendida, as punições dos Estados Unidos seriam removidas. O áudio faz parte do relatório da Polícia Federal que levou Eduardo a ser indiciado e denunciado por coação no curso do processo que julga a tentativa de golpe de Estado.

A ausência de Jair Bolsonaro no documento divulgado por Trump ao ceder em parte das tarifas mostra que, neste momento, o papel de Eduardo nos EUA resumiu-se ao de cabo eleitoral de Lula para 2026 e motivo de constrangimento para a Câmara dos Deputados. Nunca antes na história deste país uma estratégia deu tão errado.

O deputado afirmou hoje que Trump mexeu nas tarifas para conter a inflação de alimentos, que afeta produtos como carne e café, preocupado com as eleições legislativas de meio de mandato no ano que vem. Não diga. Jura mesmo. Como ninguém percebeu isso antes?

É óbvio que isso pesou, pois a realidade se impôs. Muita gente alertou Trump de que essa era a razão pela qual o tarifaço era um tiro no pé. Desde então, a diplomacia brasileira costurou com o governo dos EUA uma saída, com a ajuda de empresários daqui e de lá, mostrando que era vantajoso para os EUA revogarem a sobretaxa.

A negociação ainda vai ser longa, pois há muitos outros produtos, e podem ocorrer retrocessos.

Trump também quer evitar que o Brasil e o subcontinente sul-americano se aproximem ainda mais da China, ampliar o acesso a matérias-primas que os chineses negaram (como terras raras), melhorar as cotas de exportação de seus produtos, como etanol de milho, para cá, e facilitar o negócio de grandes empresas norte-americanas no Brasil.

Claro que ele adoraria ter alguém que age como seu pet, como Javier Milei, tomando café da manhã no Palácio do Alvorada a partir de 2027. E, certamente, pode usar suas big techs e a CIA para ajudar no serviço. Mas o Brasil não se curvou à chantagem imposta pela Casa Branca (como queriam alguns entreguistas por aqui) e, apesar dos prejuízos econômicos e sociais, está seguindo em frente.

A negociação de Trump vai tirar vantagens para os Estados Unidos e, ao final, ele poderá cantar vitória como gosta de fazer. Lula também dirá que venceu, pois está resolvendo a questão econômica (as sanções da Lei Magnitsky contra Alexandre de Moraes e família levarão mais tempo para serem sanadas). Por enquanto, contudo, o grande perdedor é o clã Bolsonaro, que conta com um filho autoexilado pelos próprios erros e um patriarca que deve ir para a cadeia em algum momento nos próximos 15 dias.