
O cofundador do PayPal, Peter Thiel, voltou a falar sobre o choque entre gerações e o desgaste do capitalismo.
A discussão reapareceu após a vitória eleitoral do socialista democrático Zoran Mamdani para a prefeitura de Nova York, o que levou a circular um e-mail que Thiel enviou em 2020 para Mark Zuckerberg, Marc Andreessen e outros nomes do setor de tecnologia.
Na mensagem, ele chamava atenção para o fato de que boa parte dos millennials demonstrava simpatia pelo socialismo e que ignorar isso era um erro, sem recorrer a adjetivos ou rótulos fáceis.
Em entrevista ao Free Press, Thiel afirmou que regras de zoneamento rígidas e limites à construção favoreceram proprietários mais velhos, enquanto tornaram quase impossível para jovens adquirir imóveis.
Para ele, quando a juventude é empurrada para condições que lembram a antiga classe trabalhadora industrial, a adoção de ideias radicais deixa de ser algo inesperado.
Embora tenha apoiado a reeleição de Donald Trump, Thiel reconheceu que Mamdani trata da crise habitacional com mais ênfase do que figuras tradicionais da política. Ele disse também que não sabe se os jovens passaram a defender mais o socialismo ou se simplesmente perderam confiança no capitalismo.
Segundo ele, muitos enxergam o sistema econômico como um mecanismo que favorece poucos e prejudica muitos.

A eleição de Mamdani ocorreu em meio a um movimento forte de insatisfação com o custo de vida. Pesquisas citadas pelo analista Frank Luntz indicam que tanto republicanos quanto democratas precisam enfrentar a disparada de preços de forma mais decisiva. Thiel reconheceu que propostas tímidas para questões como dívidas estudantis e moradia não surtiram efeito, o que abriu espaço para ideias que costumavam ficar à margem do debate, inclusive projetos de cunho claramente à esquerda.
Ele disse não se surpreender com a adesão a essas propostas, ainda que não acredite na eficiência delas. Para Thiel, uma parcela grande da população jovem de Nova York sente que o capitalismo parou de entregar soluções.
Thiel comentou ainda que a simpatia crescente pelo socialismo entre jovens aparece em um período de participação política intensa. Ele acredita que isso ocorre porque cidadãos passaram a esperar que governos corrijam problemas que antes eram atribuídos ao mercado ou à iniciativa privada. Ao mesmo tempo, há um abismo entre o que muitos millennials imaginaram para suas vidas — expectativa alimentada pelos pais — e o que conseguiram alcançar.
Perguntado sobre a chance de uma revolução, Thiel disse considerar essa hipótese pouco plausível, já que movimentos revolucionários costumam depender de grandes contingentes jovens. E os Estados Unidos estão envelhecendo rapidamente.
Por isso, se o país caminhar para um tipo de socialismo, na visão dele, a pauta deverá girar em torno de temas ligados à velhice, como saúde pública. E, segundo ele, a ideia de revolução fica distante de símbolos ligados à energia juvenil; hoje, seria algo protagonizado por pessoas bem mais velhas.