O presidente Lula deve se encontrar neste sábado (22), com o chanceler alemão Friedrich Merz, em Joanesburgo, durante a cúpula do G20. A reunião ocorre poucos dias depois de declarações do líder europeu sobre Belém, sede da COP30, terem gerado desconforto tanto no Brasil quanto na Alemanha.
Merz afirmou que a comitiva alemã teria ficado “contente” ao deixar a capital paraense e retornar à Europa, o que provocou reações críticas. A fala foi feita durante um evento em Berlim, quando o chanceler elogiava a Alemanha como “um dos países mais bonitos do mundo”.
Em tom de piada, Merz relatou ter perguntado aos jornalistas da delegação quem gostaria de permanecer no Brasil. Segundo ele, “ninguém levantou a mão”, e todos teriam ficado satisfeitos em deixar “aquele lugar onde estávamos”.
O comentário repercutiu mal. Lula respondeu que o chanceler deveria ter aproveitado a culinária e a cultura paraenses, lembrando que Belém será a anfitriã da conferência climática em 2025. Mesmo com a repercussão negativa, Merz indicou que não pretende pedir desculpas.
A posição foi reforçada pelo porta-voz do governo alemão, Stefan Kornelius, que afirmou não haver qualquer prejuízo à relação entre os dois países. Ele negou que o premiê tenha demonstrado “desagrado” ou “repulsa” por Belém e disse que a fala foi tirada de contexto.
De acordo com Kornelius, Merz fez um comentário “essencialmente ligado ao cansaço” da comitiva após um longo dia de compromissos e um voo noturno. Ele reiterou que a visita ao Brasil deixou “uma impressão muito positiva”.
Segundo o porta-voz, “não há dúvida de que o Brasil é nosso parceiro mais importante em termos geoestratégicos e econômicos na América do Sul”. Apesar da tentativa de minimizar o caso, o porta-voz foi direto ao responder se Merz pediria desculpas ou se via algum impacto nas relações bilaterais: “Não, duas vezes”.
A reunião entre Lula e o chanceler deve ocorrer sob esse pano de fundo, com expectativa de que os dois líderes mantenham a agenda diplomática focada em cooperação econômica, clima e investimentos, enquanto tentam contornar a crise criada pela declaração.
Nos bastidores da diplomacia brasileira, a avaliação predominante é que o encontro será oportunidade para “virar a página” e reforçar compromissos da Alemanha com a COP30. O governo brasileiro pretende destacar os avanços na preparação da conferência em Belém, além de discutir pautas de interesse mútuo no G20.