
A Polícia Federal já monitorava os movimentos do deputado Alexandre Ramagem antes de virem a público as primeiras informações indicando que ele estava em Miami. Agora, a corporação concentra esforços em reconstruir a rota de fuga do parlamentar, condenado pelo STF a 16 anos e 1 mês de prisão em regime fechado.
Segundo investigadores, Ramagem deixou o Brasil de forma clandestina, desrespeitando determinação judicial que proibia qualquer deslocamento internacional. De acordo com apuração da PF, a principal linha de investigação aponta que o deputado pode ter saído por Boa Vista, em Roraima, seguindo em direção aos Estados Unidos “provavelmente pela Venezuela ou Guiana”.
A informação surge após a prisão ter sido decretada pelo ministro Alexandre de Moraes, que atendeu a um pedido da própria PF. A decisão, tomada antes mesmo do protocolo oficial, está sob sigilo. No acórdão que condenou Bolsonaro, Ramagem e outros acusados, Moraes determinou que todos permanecessem no país e entregassem os passaportes.
A defesa afirma ter sido informada apenas nesta semana de que o deputado deixou o Brasil. Em nota, o advogado Paulo Cintra disse que, diante da ausência de comunicação prévia por parte do cliente, não fará comentários “por ora” sobre a fuga ou seus desdobramentos.

Enquanto isso, Ramagem foi localizado pelo site PlatôBR em um condomínio de luxo em Miami, onde circulava acompanhado da esposa. A Câmara dos Deputados informou que não autorizou qualquer missão oficial do parlamentar no exterior.
Segundo registros da Casa, Ramagem apresentou dois períodos de afastamento médico: de 9 de setembro a 8 de outubro e depois de 13 de outubro a 12 de dezembro. O uso desses atestados, porém, não permite viagens internacionais sem autorização expressa, o que não ocorreu.
A condenação do deputado foi baseada em uma série de elementos reunidos pela PF e pelo Ministério Público, entre eles mensagens trocadas com Jair Bolsonaro no período pós-eleitoral.
No voto que o levou à prisão, Moraes destacou uma conversa em que Ramagem, então diretor da Abin, afirmava ao ex-presidente que a urna eletrônica “já se encontra em total descrédito perante a população”. Para o ministro, esse tipo de mensagem evidenciava a atuação do grupo para deslegitimar o sistema eleitoral.