
A vigília convocada pelo senador Flávio Bolsonaro em frente ao condomínio onde Jair Bolsonaro mora, em Brasília, terminou em confusão na noite deste sábado (21). O ato, oficialmente organizado como uma reunião evangélica para orações pela saúde do ex-presidente, foi interrompido quando um homem que se apresentou como pastor passou a defender publicamente a prisão de Bolsonaro. A manifestação do grupo havia começado de forma pacífica, com cânticos e leituras bíblicas.
O episódio ocorreu por volta das 20h15, quando Ismael Lopes, 34 anos, pediu para discursar e foi chamado ao microfone pelo senador. Em seu breve pronunciamento, Lopes leu uma passagem da Bíblia que dizia que “quem cava covas por elas será engolido”, e logo emendou dizendo que Bolsonaro deveria ser condenado por sua atuação durante a pandemia de Covid-19. A fala surpreendeu os presentes.
Assim que terminou de falar, Lopes saiu correndo em direção à rua, mas foi perseguido por apoiadores do ex-presidente. Testemunhas relataram que ele foi cercado, empurrado, recebeu socos e pontapés e teve a manga da camisa rasgada. A confusão se espalhou rapidamente entre os participantes da vigília, que até então seguiam em oração.
🇧🇷 Homem foi agredido na vigilia de Flávio Bolsonaro, após afirmar que o ex-presidente “abriu 700 mil covas” na pandemia.pic.twitter.com/gAObKbuPH2
— Eleições em Pauta (@eleicoesempauta) November 22, 2025
A Polícia Militar do Distrito Federal interveio para dispersar os agressores usando spray de pimenta. Após conter o tumulto, os policiais escoltaram Lopes até um carro de aplicativo, garantindo que ele deixasse o local sem novos ataques. Apesar de pedir calma, Flávio Bolsonaro não conseguiu conter os simpatizantes, que seguiram hostilizando o rapaz.
O senador afirmou repetidas vezes que ninguém deveria ser agredido, mas seu apelo foi ignorado por parte dos presentes. O clima continuou tenso mesmo após a saída de Lopes, com apoiadores comentando que ele “pregou traição” durante um ato religioso. Não houve registro de feridos graves.

Lopes afirmou à reportagem que é membro da Frente de Evangélicos pelo Estado de Direito, movimento que também participa de eventos promovidos pela primeira-dama Rosângela da Silva, a Janja. Ele disse não ser pastor, apesar de ter se apresentado como tal, e negou que sua tentativa de discursar fizesse parte de ação coordenada da Frente.
Segundo ele, a ideia de falar durante o ato foi pessoal, mas comunicada a lideranças do movimento antes da vigília. Lopes disse ainda que, para ser ouvido, afirmou representar um grupo evangélico presente em 19 estados, o que chamou a atenção de Flávio Bolsonaro e o levou ao microfone. Ele insistiu que pretendia fazer uma leitura bíblica acompanhada de “verdades sobre o país”.
A vigília havia sido convocada horas depois da prisão preventiva de Jair Bolsonaro, determinada pelo ministro Alexandre de Moraes. A tensão em frente ao condomínio se intensificou ao longo do dia, e o tumulto deste sábado mostrou o desgaste entre grupos religiosos que se dividem sobre o papel do ex-presidente diante das investigações.