“Paranoia”: aliados agora dizem que Bolsonaro acreditava que tornozeleira tinha “escuta”

Atualizado em 23 de novembro de 2025 às 12:30
Bolsonaro surtando. Foto: reprodução

A suposta paranoia que tomou conta de Jair Bolsonaro (PL) nos últimos dias, antes de sua prisão preventiva, é apontada por aliados como o gatilho para a tentativa de violação da tornozeleira eletrônica com um ferro de solda. Segundo Mônica Bérgamo, da Folha, pessoas próximas afirmam que o ex-presidente estava convencido de que o equipamento continha um grampo e permitia que terceiros ouvissem suas conversas, suspeita que ele expressou a visitantes e que se agravou com o medo da prisão iminente.

A desconfiança, vista por interlocutores como infundada, é atribuída a um quadro de confusão mental, ansiedade e estresse.

Bolsonaro, que passou décadas cercado por assessores responsáveis por cada detalhe de sua rotina, teria sentido o impacto de viver isolado em casa, precisando lidar sozinho com tarefas simples e até com os próprios medicamentos. Esse cenário, dizem aliados, alimentou a sensação de vigilância constante e contribuiu para o estado emocional que culminou na violação do equipamento.

O episódio ocorreu às 0h07 de sábado (22), quando o alarme da tornozeleira disparou e acionou o Centro Integrado de Monitoração Eletrônica. Uma servidora da Secretaria de Administração Penitenciária do Distrito Federal foi enviada para verificar o incidente.

Inicialmente, a equipe de escolta informou que Bolsonaro teria batido o aparelho na escada. No entanto, ao examinar o dispositivo, a servidora identificou queimaduras no case e concluiu que “a tornozeleira não apresentava sinais de choque em escada”.

No vídeo registrado durante a inspeção, ela pergunta ao ex-presidente quando ele teria começado a mexer no equipamento. Bolsonaro responde que foi “no final da tarde”. Ao ser questionado se havia usado algum instrumento, admite: “Meti ferro quente, meti ferro quente aí… curiosidade”.

A servidora pergunta: “Que ferro foi? Ferro de passar?”, e ele esclarece: “Ferro de soldar, solda”. O ferro de solda, ferramenta que atinge altas temperaturas e derrete metais, explica as avarias detectadas no dispositivo.

Após constatar os danos, a equipe substituiu a tornozeleira ainda durante a madrugada. A tentativa de violação foi incluída no relatório enviado ao Supremo Tribunal Federal e se tornou um dos principais elementos considerados pelo ministro Alexandre de Moraes ao decretar a prisão preventiva.

Para o magistrado, o ato indicou “a intenção do condenado de romper a tornozeleira eletrônica para garantir êxito em sua fuga”.

Augusto de Sousa
Augusto de Sousa, 31 anos. É formado em jornalismo e atua como repórter do DCM desde de 2023. Andreense, apaixonado por futebol, frequentador assíduo de estádios e tem sempre um trocadilho de qualidade duvidosa na ponta da língua.