Entre negação e ameaça de greve: como grupos de direita reagiram à prisão de Bolsonaro

Atualizado em 24 de novembro de 2025 às 8:51
O ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), preso na Superintendência da Polícia Federal em Brasília. Foto: Gabriela Bilo/Folhapress

A negação, a fé e a convocação de atos passaram a dominar os grupos bolsonaristas após a prisão preventiva de Jair Bolsonaro (PL). A reação captada entre 21 e 23 de novembro pela Palver — a partir de mais de 100 mil grupos públicos de WhatsApp e Telegram — mostra como as narrativas se reorganizaram diante da tentativa de violar a tornozeleira eletrônica e da decisão do ministro Alexandre de Moraes. Com informações da Folha de S.Paulo.

Entre os usuários que emitiram opinião, 63% se posicionaram contra a prisão preventiva e 37% a favor. A primeira reação foi negar qualquer tentativa de violação da tornozeleira, atribuindo o episódio a um suposto mau funcionamento.

Mesmo após o vídeo da Polícia Federal — em que o próprio ex-presidente admite o uso de um ferro de solda — a linha adotada passou a ser a de questionar a veracidade das imagens, colocando em dúvida a voz, a perna filmada ou até a ausência de queimadura. Mais de 38% dos usuários que comentaram o tema negaram a tentativa de violação.

Religião como eixo central da mobilização

O uso da religião foi um dos fenômenos mais relevantes ao longo do período. O senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ) afirmou que “oração virou crime”, e essa abordagem se espalhou rapidamente pelos grupos.

A estratégia consiste em transformar Moraes em inimigo da fé, deslocando o debate para um campo emocional, pouco afetado pela discussão jurídica.

O senador também tornou-se o principal articulador do núcleo político da família Bolsonaro nas redes, e as menções ao seu nome aumentaram quase 20 vezes. No X, pediu que apoiadores não se dirigissem à sede da PF em Brasília. Ainda assim, mensagens sobre caravanas, paralisações e greve geral triplicaram no período analisado.

Expectativa em relação aos Estados Unidos

Mensagens sobre os Estados Unidos representaram entre 5% e 7% de todo o volume analisado. A nota da embaixada americana criticando Moraes circulou amplamente, acompanhada de comentários que sugeriam “vergonha internacional” ao STF.

Postagens de aliados do presidente Donald Trump, como Jason Miller e Martin de Luca, alimentaram expectativas de intervenção ou pressão estrangeira sobre o caso.

Críticas ao bolsonarismo

Entre os 62% que consideram que Bolsonaro tentou violar a tornozeleira, o vídeo da PF foi tratado como prova definitiva. Esses usuários criticaram o “vitimismo” e a “manipulação narrativa” da direita e apontaram o episódio como um “tiro no pé”, que expõe a fragilidade do discurso de perseguição e o desgaste do capital político do ex-presidente.

Os dados indicam que o bolsonarismo continua atuando com grande capacidade de reorganizar narrativas favoráveis, mesmo diante de evidências contrárias — inclusive quando Bolsonaro admite a tentativa de violação. Essa dinâmica reforça a dependência do grupo em torno do ex-presidente e a manutenção da polarização política que deve marcar as eleições do próximo ano.