
O avanço da Operação Compliance Zero revelou aos investigadores um cenário incomum para técnicos do Banco Central. Experientes e acostumados a disputas regulatórias, esses servidores afirmaram à Polícia Federal e ao Ministério Público que jamais haviam enfrentado uma pressão tão intensa para favorecer uma instituição financeira quanto a que ocorreu no caso do Banco Master.
Segundo a coluna de Malu Gaspar, no jornal O Globo, a tentativa incluía tanto a aprovação da compra pelo BRB quanto o adiamento da intervenção que acabou levando à liquidação extrajudicial do banco. A direção do BC, segundo relato de uma fonte da investigação, tinha pronto o decreto de liquidação muito antes da operação da PF, mas só decidiu aplicá-lo após as diligências para se blindar do ambiente político.
As irregularidades já haviam provocado um racha interno na cúpula responsável pelo caso. Uma minuta de intervenção chegou a ser elaborada por Renato Gomes, com apoio do diretor Gilneu Vivan, mas não avançou devido à resistência do diretor de Fiscalização, Aílton Aquino.
Enquanto isso, a pressão também se deslocou para o Congresso Nacional. Logo após o anúncio da compra do Master pelo BRB, senadores articularam uma CPMI (Comissão Parlamentar Mista de Inquérito) para investigar a operação. O pedido, liderado por Izalci Lucas, reuniu assinaturas suficientes, mas foi retirado de forma abrupta pelo próprio parlamentar, que alegou ter recebido informações capazes de dissipar dúvidas sobre o negócio.

A movimentação foi influenciada por Ciro Nogueira. O senador do PP, aliado de Daniel Vorcaro, sempre negou ter atuado contra a CPI, mas é apontado nos bastidores como líder da chamada “bancada do Master”. A articulação envolve nomes ligados ao União Brasil, que impulsionou aportes de estados e municípios em títulos emitidos pelo banco.
O histórico de apoio de Ciro ao Master é extenso. Antes da tentativa formal de compra pelo BRB, o senador já havia patrocinado no Senado uma emenda à PEC da autonomia financeira do Banco Central elevando de R$ 250 mil para R$ 1 milhão a cobertura do Fundo Garantidor de Créditos para produtos como CDBs, carro-chefe do Master. A proposta ficou conhecida como “emenda Master” e acabou rejeitada pelo relator Plínio Valério.
A pressão não se limitou ao Congresso. Em outra frente, gestores da Caixa Econômica Federal foram destituídos após rejeitar a compra de R$ 500 milhões em letras financeiras do Banco Master. Um parecer da área de renda fixa da Caixa Asset classificou a operação como atípica e arriscada pelo valor elevado e pelo rating da instituição. A repercussão negativa impediu o avanço da negociação.