
O Ministério Público Federal (MPF) afirmou haver “indícios graves de fraude” na venda, pelo Banco Master, de uma carteira de crédito de R$ 303 milhões ao BRB. A operação envolveu a The Pay Soluções de Pagamentos Ltda, empresa registrada em nome de uma atendente de lanchonete investigada por aplicar golpes com maquininha.
Documentos mostram que a The Pay não possui funcionários, declarou contatos fictícios como “contato@contato.com” e opera fora do setor financeiro. Apesar disso, gerou uma carteira de créditos milionária.
O MPF apontou que a proprietária, com salário de R$ 1.486, tem “endereço simples”, o que reforça a suspeita de que a firma era usada como fachada. Após vender os títulos ao BRB em dezembro de 2024, o Master recomprou essa carteira dois meses depois, já sob fiscalização do Banco Central.
O caso passou a ser investigado após o MPF questionar o BC sobre transações irregulares entre as duas instituições. Em manifestação, os procuradores afirmaram que operações semelhantes, feitas em 2024, apontam para prejuízos anteriores e que o esquema pode representar “uma das maiores fraudes bancárias da história do Brasil”. As suspeitas cresceram porque, de janeiro a maio de 2025, o Master teria revendido carteiras ao BRB num total de R$ 12,2 bilhões.

O MPF relata que o Master teria adquirido títulos gerados por um ex-funcionário sem fazer qualquer pagamento e, em seguida, repassado esses créditos ao BRB, recebendo o valor imediatamente. O banco justificou ao BC que a origem das carteiras eram associações de servidores da Bahia, mas uma auditoria apontou inconsistências, como CPFs espalhados por diversos estados e fluxo financeiro incompatível com as entidades citadas.
Um pente-fino em 30 clientes apontou “indícios de insubsistência”. Mesmo após o BRB entregar mais 100 contratos para análise, o BC reforçou que os dados sugeriam “possível engenharia contábil e financeira”. A partir das cobranças, a titularidade das carteiras passou a ser atribuída à Tirreno, empresa criada no fim de 2024 e dirigida por um ex-funcionário do Master, outro indício de operação estruturada para socorrer o banco.
Segundo o MPF, contratos entre Master e Tirreno não estavam autenticados em cartório e parte da documentação só foi formalizada meses depois das transações. Os investigadores destacam que é “atípico e desarrazoado” que apenas após questionamentos do BC o BRB tenha começado a exigir documentos adicionais, mesmo em operações bilionárias. Diante das suspeitas, a Polícia Federal prendeu Daniel Vorcaro, que se preparava para viajar ao exterior, e outros executivos.
O BRB afirmou que sempre observou normas de compliance. A defesa de Vorcaro chamou a prisão de “desnecessária e ilegal” e disse que o banqueiro viajava aos Emirados Árabes para concluir a venda do Master ao Grupo Fictor. O caso segue no Superior Tribunal de Justiça após recurso dos advogados.