
Os principais executivos do sistema financeiro brasileiro participaram nesta segunda-feira do tradicional almoço anual da Febraban, em São Paulo. Antes da chegada do presidente do Banco Central, Gabriel Galípolo, banqueiros concentraram a conversa em uma única preocupação: o impacto da liquidação do Banco Master sobre a liquidez do Fundo Garantidor de Créditos e o tempo necessário para recompor o seu caixa. Com informações do Estadão.
Para eles, este é o ponto que realmente altera o ambiente do mercado. O nome de Daniel Vorcaro, dono do Master e preso desde o dia 18, não despertou inquietação entre os presentes. Um dos executivos afirmou que “Vorcaro era problema até a liquidação do banco, agora é assunto liquidado”.
A mesma frieza se repetiu em relação à prisão de Jair Bolsonaro. Um participante do encontro disse que o caso se tornou um “não assunto”, comentando que, diante do episódio envolvendo a tornozeleira eletrônica, não havia nada a acrescentar.
A avaliação recorrente entre banqueiros foi a de que tanto Vorcaro quanto Bolsonaro migraram definitivamente para o campo policial, deixando de fazer parte das preocupações do setor financeiro. Para eles, o momento exige foco em estabilidade, gestão de risco e previsibilidade regulatória, não discussões políticas.
Na parte pública do evento, Gabriel Galípolo destacou o papel do Banco Central na detecção de fraudes e citou a importância dos mecanismos de supervisão.
Ele mencionou que a estrutura de fiscalização contribuiu para operações como a Carbono Oculto, que identificou o uso de fintechs para lavagem de dinheiro do crime organizado. O presidente do BC reforçou que a supervisão é permanente. “A obra de supervisão nunca está completa. É um movimento contínuo”, afirmou.

Sem citar o Master, Galípolo lembrou que bancos são instituições sujeitas a falhas, inclusive em países como Estados Unidos e Suíça, e defendeu que o setor aprenda com caso críticos para aprimorar práticas e evitar repetições. O discurso foi lido como um recado ao mercado sobre a necessidade de fortalecer estruturas internas.
O presidente da Febraban, Isaac Sidney, também evitou mencionar diretamente o Master, mas reforçou que solidez e ética são pilares do sistema. Ele afirmou que “um setor bancário forte depende de um setor regulador forte” e elogiou Galípolo por elevar o padrão institucional do Banco Central.
A ausência do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, acompanhando Lula no G20, foi interpretada nos bastidores como um alívio. Nos últimos meses, Haddad intensificou críticas ao setor financeiro, em especial à chamada Faria Lima, e travou um embate público com Galípolo sobre a taxa de juros.
A presença dele poderia gerar desconfortos, e sua ausência evitou ruídos adicionais. Representando a Fazenda, o secretário-executivo Dario Durigan apresentou números que, segundo ele, mostram melhora nas contas públicas.
Ele afirmou que o país obteve, em 2024, os melhores resultados fiscais da década e reforçou que as metas serão mantidas. “A gente não gosta de discurso ideológico vazio. A gente gosta de entrega”, declarou ao público.
Além de Durigan, estiveram no evento as ministras Simone Tebet e Esther Dweck, e o ministro Wolney Queiroz. O clima geral foi mais contido que em anos anteriores, marcado pela cautela após o pacote de cortes anunciado pelo governo, considerado insuficiente por parte do mercado.