Nova função do X expõe rede de “apoiadores” falsos de Trump fora dos EUA

Atualizado em 24 de novembro de 2025 às 23:09
Recurso do X expõe localização de perfis pró-Trump e revela rede global de trolls

O lançamento de um novo recurso no X, rede de Elon Musk, abriu uma crise global ao expor a localização aproximada de contas que se passam por apoiadores do presidente americano Donald Trump. Com informações da AFP.

A ferramenta, criada pela chefe de produto Nikita Bier, mostra o país ou região onde cada perfil está sediado, o que levou usuários a identificar contas supostamente pró-Trump publicando a partir da Nigéria, Bangladesh, Tailândia e países do Leste Europeu. Pesquisadores afirmam que o movimento revelou, com mais clareza, redes de influência que já vinham sendo monitoradas.

A reação foi imediata. Dezenas de perfis que se apresentavam como mulheres americanas conservadoras, usando fotos de modelos e influenciadoras europeias, foram flagrados operando a partir de países asiáticos.

Benjamin Strick, diretor de investigações do Centro para a Resiliência da Informação, sediado em Londres, afirmou que esses dados confirmam suspeitas levantadas nas eleições americanas do ano passado. Segundo ele, muitas contas ligadas à rede MAGA estavam baseadas no Sudeste Asiático.

enjamin Strick, diretor de investigações do Centro para a Resiliência da Informação, sediado em Londres

Para pesquisadores de desinformação, a novidade facilitou o rastreamento de operações organizadas, antes identificadas apenas por erros de linguagem, padrões de horário e outros indícios indiretos. Strick afirma que a localização exibida pelo X aproxima analistas da compreensão sobre quem está por trás dessas campanhas e qual a escala de atuação das fazendas de trolls.

A reação também ficou evidente em setores da direita americana. Usuários conservadores passaram a apontar supostos perfis de esquerda cuja localização também aparecia fora dos EUA. Diante da confusão, o próprio X passou a exibir avisos explicando que as informações podem não ser precisas, já que viagens, mudanças temporárias e uso de VPN podem alterar o registro exibido.

Nikita Bier reconheceu que o recurso estreou com falhas e prometeu ajustes até esta terça-feira, afirmando que a precisão deve chegar a “99,99%”. As críticas, porém, não se limitaram a erros técnicos. Especialistas alertaram que a exposição da localização pode colocar em risco dissidentes e ativistas que vivem sob regimes autoritários, mesmo com a promessa de que nesses países a ferramenta mostrará apenas regiões amplas.

A equipe de engenharia responsável por combater operações de influência, spam e conteúdos ilegais no X foi reduzida pela metade no mês passado, segundo o site The Information. A substituição de analistas por sistemas de inteligência artificial preocupa especialistas, que temem um aumento da desinformação e da atuação de agentes estrangeiros, incluindo russos e chineses.

Pouco após o lançamento da ferramenta, algumas contas de grande alcance desapareceram sem explicação. Uma delas, que se apresentava como fã de Ivanka Trump e acumulava mais de um milhão de seguidores, foi suspensa depois de usuários notarem que sua localização estava registrada como Nigéria. O X não se manifestou sobre o caso.

Para pesquisadores, a mudança expõe como influenciadores estrangeiros e agentes pagos utilizam temas polarizados para gerar engajamento e lucro. Amy Bruckman, professora do Instituto de Tecnologia da Geórgia, afirmou que o recurso evidencia um problema estrutural das redes: a amplificação deliberada de conflitos políticos por contas que operam sem transparência e sem responsabilidade.