Os jornalões comem pela mão dos informantes. Por Moisés Mendes

Atualizado em 25 de novembro de 2025 às 7:11
O ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e a tornozeleira eletrônica. Foto: Reprodução

Desde o golpe contra Dilma em 2016, passando pela prisão de Lula em 2018 e chegando à tentativa de golpe em 2022 e 2023, os jornalões não produziram nada de relevante.

Venderam notícias, como açougues vendem guisado, com boas informações vazadas de dentro do sistema de Justiça, do Congresso e das polícias, em todos os casos.

Mas fizeram o que um açougue também faz vendendo carne de segunda. Venderam coisinhas picadas.

Os jornalões, com as melhores estruturas e com profissionais de sobra para levar adiante pautas investigativas, não deram uma linha que tenha sido resultado de trabalho próprio sobre o golpe.

Nada, nenhuma informação que não tenha saído dos inquéritos e, depois, dos processos. O que esperamos desde sábado é que, em algum momento, a grande imprensa ofereça mais do que as mesmas coisas sobre a tornozeleira e o surto de Bolsonaro.

Não há, nesses três dias desde a prisão na manhã de sábado, nada que possa ser considerado informação resultante de esforço próprio dos jornais.

Há uma disputa pela comidinha que policiais e autoridades bem relacionadas com os colunistas fazem vazar, como sempre fizeram. Globo, Folha e Estadão comem quase sempre pela mão da Polícia Federal, o que não é anormal, mas é pouco.

Os três episódios citados — a derrubada de Dilma, a prisão de Lula e o golpe fracassado contra Lula — mostram que os jornalões são apenas noticiosos e quase irrelevantes em momentos como esses.

Notícia todo mundo produz. Fontes nas instituições todos os colunistas têm. Mas falta o que o jornalismo já teve, principalmente na ditadura. Falta a vontade de obter mais do que está sendo oferecido de mão beijada.

FRACASSO

Nem eles acreditavam que haveria comoção popular com a prisão do chefe da organização criminosa. Não aconteceu nada.

O que o fascismo tentará de novo é antigo: usar o Congresso para tentar sabotar o Supremo.

Tentaram e não conseguiram algemar a Polícia Federal, e agora atacam Alexandre de Moraes e Flavio Dino.

Hugo Motta, Arthur Lira, Davi Alcolumbre e até Rodrigo Pacheco, que ficou beiçudo por não ter sido escolhido para o STF, estão na linha de frente.

CUNHA AMANHÃ

Davi Alcolumbre e Hugo Motta disputam uma condição que ninguém pode invejar: um deles será o Eduardo Cunha amanhã.

Com um detalhe: podem ser comidos pelo próprio “sistema”, incluindo o político e o de Justiça, antes de completarem suas maiores crueldades.

O recado de Hugo Motta e Davi Alcolumbre ao STF
Os presidentes do Senado, Davi Alcolumbre (União-AP), e da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB). Foto: Brenno Carvalho
Moisés Mendes
Moisés Mendes é jornalista em Porto Alegre, autor de “Todos querem ser Mujica” (Editora Diadorim) - https://www.blogdomoisesmendes.com.br/