Ciro Nogueira se afasta da eleição presidencial após investigações contra aliados

Atualizado em 25 de novembro de 2025 às 14:11
Senador Ciro Nogueira, presidente do PP. Foto: Reprodução

As sucessivas investigações que atingem figuras próximas a Ciro Nogueira (PP-PI) vêm desgastando o entorno do senador e, na prática, afastando-o de articulações para uma futura eleição presidencial, conforme informações da coluna Painel, da Folha de S.Paulo.

Nos últimos meses, ao menos quatro aliados diretos se tornaram alvos de operações policiais, comprometendo a imagem do presidente do PP e dificultando seus movimentos políticos para 2026.

O caso mais recente envolve Daniel Vorcaro, dono do Banco Master, preso na operação Compliance Zero na segunda-feira (17), investigado por supostos crimes contra o sistema financeiro. Vorcaro é nome frequente em eventos ao lado de Ciro e era considerado uma ponte estratégica entre o senador e o setor financeiro.

Pouco antes disso, o ex-assessor Victor Linhares foi alvo de busca e apreensão na Carbono Oculto 86, que apura a infiltração do PCC no mercado de combustíveis no Piauí. Embora não seja investigado, a Polícia Civil quer esclarecer sua proximidade com suspeitos do esquema, com quem viajou e gravou vídeos descontraídos. A relação é antiga: além de trabalhar com Linhares, Ciro é padrinho de uma de suas filhas.

Aliado de Ciro Nogueira é visto em viagem com investigados por elo com PCC
O senador Ciro Nogueira (PP) e o ex-vereador Victor Linhares. Foto: Reprodução

A megaoperação Carbono Oculto também alcançou Ricardo Magro, dono da Refit, citado em agosto por suposta participação em um esquema da facção criminosa. Em 2024, Ciro apresentou emendas apelidadas de “emendas Refit”, interpretadas como medidas que poderiam favorecer a empresa, que acumula dívidas bilionárias de ICMS.

CPI das Bets e triangulação financeira

Outro aliado atingido é o empresário Fernando Oliveira Lima, o Fernandin OIG, alvo da Polícia Federal em maio. A corporação pediu ao STF autorização para investigar sua relação com Ciro, que o defendeu na CPI das Bets e viajou em seu jato para Mônaco.

O empresário Fernandin OIG em seu jatinho. Foto: Reprodução

Uma triangulação de recursos envolvendo Fernandin, Linhares e o senador foi revelada pela revista Piauí: o empresário repassou R$ 625 mil ao ex-assessor, que, no mesmo período, transferiu R$ 35 mil à conta de Ciro.

O senador afirma que o valor era reembolso de uma reserva de hotel em Capri e que os R$ 625 mil se referiam à venda de um relógio de luxo, tratada entre Fernando e Linhares.

Influência política e medidas que favoreceriam Vorcaro

No caso de Vorcaro, além da proximidade pessoal, Ciro atuou como uma das pontes do banqueiro com o meio político. Foi por meio desses contatos que o dono do Master avançou na tentativa de vender o banco ao BRB, negócio posteriormente vetado pelo Banco Central.

Enquanto as negociações ocorriam, Ciro patrocinou iniciativas que poderiam beneficiar o banqueiro, como a “emenda Master”, que elevaria a cobertura do FGC de R$ 250 mil para R$ 1 milhão — medida que aprofundaria o rombo do fundo, já projetado em R$ 41 bilhões.

Também participou de ofensiva legislativa que daria ao Congresso poder de demitir dirigentes do Banco Central, interpretada como pressão sobre a instituição no momento em que avaliava a venda do Master.

Daniel Vorcaro e Ciro Nogueira em evento do grupo Esfera. Foto: Reprodução/Youtube

Aliados em crise e disputas antigas

Outro personagem do entorno é Paulo Henrique Costa, ex-presidente do BRB afastado por decisão judicial. Ele já foi aliado de Ciro quando atuou na Caixa, mas ambos romperam; segundo relatos, não se falam nem se cumprimentam publicamente.

Além disso, a prisão preventiva do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) no último sábado (22) adicionou tensão ao grupo político do qual Ciro fez parte como ministro da Casa Civil e com quem mantém relação de amizade.

Com sucessivos desgastes envolvendo pessoas de seu círculo político, o senador passou a sinalizar recuos. Informou a Bolsonaro que não pretende ser vice na chapa presidencial de 2026 e, em seguida, defendeu que a federação União Progressista (União Brasil + PP) concentre esforços nas eleições estaduais, alegando “falta de bom senso e de estratégia no centro e na direita”.

Distante de planos nacionais, Ciro deve disputar a reeleição ao Senado pelo Piauí, deixando de lado a tentativa de ser vice de Tarcísio de Freitas (Republicanos-SP).

Jair Bolsonaro e Ciro Nogueira
Ciro Nogueira (PP) e Jair Bolsonaro (PL). Foto: Reprodução