
A tentativa de seguidores do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) de realizar uma vigília religiosa em Curitiba terminou em confronto direto com a hierarquia da Igreja Católica. O arcebispo de Curitiba, dom José Antônio Peruzzo, determinou o cancelamento do evento, que estava marcado para a noite de terça-feira (25) na Igreja São Francisco de Paula, no Centro da cidade, após articulação da ex-candidata a prefeita Cristina Graeml (União).
Segundo pessoas próximas ao religioso, ele ficou “bastante irritado” ao retornar de viagem e descobrir que a mobilização havia sido organizada durante sua ausência, sem autorização da Arquidiocese.
Embora não tenha sido emitido um documento formal, a ordem interna foi clara: nenhuma paróquia está autorizada a promover vigílias de caráter político, especialmente aquelas relacionadas à prisão de Bolsonaro ou ao pedido de anistia para envolvidos nos atos golpistas de 8 de janeiro de 2023. A decisão foi confirmada pela assessoria da Arquidiocese, que afirmou ter repassado a orientação a todo o clero.
Um vídeo que viralizou nas redes sociais mostra dom Peruzzo trancando o portão da paróquia para impedir a entrada dos bolsonaristas. Do lado de fora, apoiadores chamaram o arcebispo de “sem vergonha”, enquanto uma mulher pedia a um segurança que ignorasse a determinação da autoridade religiosa. Ao fim da gravação, uma apoiadora do ex-presidente aparece em prantos, dizendo sentir uma “tristeza imensa”.
Padre de Curitiba impediu que apoiadores de Bolsonaro realizassem uma vigília na igreja.
Ele fechou o portão da paróquia, e as pessoas acabaram fazendo a vigília do lado de fora.
tempos sombrios pic.twitter.com/3EeZCgKxij
— Alex Moretti (@Alexmorettibr) November 26, 2025
A convocação de Cristina Graeml afirmava que o objetivo era rezar pela saúde de Jair Bolsonaro e pedir anistia não apenas para ele, mas também para os “milhares de presos e exilados políticos” do país, referência direta aos golpistas envolvidos na invasão de 8 de janeiro.
A mobilização aconteceria poucas horas após o processo do ex-presidente transitar em julgado no Supremo Tribunal Federal (STF), confirmando o início do cumprimento da pena de 27 anos por tramar o golpe de Estado entre 2022 e 2023.
A tentativa de transformar uma paróquia em ponto de manifestação política acontece no momento em que Graeml se consolida como um dos principais rostos do bolsonarismo no Paraná.
Derrotada no segundo turno da disputa pela Prefeitura de Curitiba em 2024, a jornalista ganhou projeção nacional ao surpreender nas urnas e, segundo aliados, deve buscar espaço maior na política em 2026, possivelmente disputando uma vaga no Senado.
A vigília cancelada também ocorre em meio à prisão preventiva de Bolsonaro, decretada no sábado (22) após ele tentar violar a tornozeleira eletrônica que monitorava sua prisão domiciliar. Desde então, aliados vêm organizando atos religiosos e políticos em diferentes estados, tentando demonstrar força e pressionar por anistia no Congresso.