A extrema direita que não consegue ficar adulta. Por Moisés Mendes

Atualizado em 26 de novembro de 2025 às 21:54
Augusto Heleno sério, sem olhar para a câmera, em close
General Augusto Heleno – Reprodução

Augusto Heleno tem Alzheimer desde 2018, conforme declaração do próprio general. Heleno se declarou com demência quando fez os exames de corpo de delito, para cumprimento da pena de 21 anos de prisão.

O exame foi feito dentro do Comando Militar do Planalto. Heleno fez a declaração no ambiente do mais importante reduto militar de Brasília. Mas como só agora, general? E no prédio da instituição que o acolheu desde 1969?

Heleno confessou, dentro de um QG do Exército, que serviu ao governo de Bolsonaro, com o poder e o respeito de quem sempre será general, enquanto perdia a memória e quem sabe a capacidade de discernimento.

Um general que conversava com agentes da CIA enquanto esquecia o que falava, fazia e ouvia. Que mandou a arapongagem da ‘inteligência‘ do governo Bolsonaro monitorar inimigos, enquanto ia ficando demente. Que anotava num caderno, para não se esquecer de detalhes, os passos do golpe.

Esse general da agendinha escolar do golpe diz agora que tem Alzheimer, com a candura de um velhinho de 78 anos que pede clemência e lamenta nunca ter se lembrado de ter informado sua condição a policiais, ao Ministério Público ou a Alexandre de Moraes.

Heleno poderia ter dito, quando informou Moraes de que não levara o golpe adiante porque não havia clima, que era uma pessoa mentalmente doente. Que não se lembrava de fatos importantes.

Mas só agora, alertado por alguém, que pode ser o seu advogado, que também nunca falou nada a respeito, lembrou-se de que tem Alzheimer. E tem desde 2018, o ano em que Bolsonaro foi eleito.

Desde janeiro de 2019 e até o final do governo, Heleno comandou o Gabinete de Segurança Institucional da Presidência da República. E foi secretário-executivo do Conselho de Defesa Nacional.

Um general que já tinha sinais de senilidade cuidava da área de inteligência de Bolsonaro. E secretariava o conselho encarregado de tratar das estratégias e das prioridades para a segurança nacional.

Jair Bolsonaro no canto esquerdo de foto, de perfil, sério, com mão na boca
Jair Bolsonaro (PL) – Reprodução

Um militar de alta patente, que sempre será militar, dedicava-se a tarefas que exigem, no mínimo, agilidade mental.

Heleno é, com toda a precaução possível diante das doenças alheias, mais uma figura marcada pelas atitudes infantis do bolsonarismo – tendo ou não demência, o que peritos poderão confirmar ou não.

O general é um velhinho com atitudes de criança. Todas as falas dele, nas reuniões golpistas gravadas no governo Bolsonaro e nos depoimentos à Justiça, têm muito de comportamento infantil.

É comum entre eles. Aquele Bolsonaro entrevistado pela agente do sistema penitenciário de Brasília, enquanto ela manuseava a tornozeleira, é infantil. Não é apenas estúpido.

As respostas são infantis. Podem dizer, como dizem, que ele estava dopado. Mas no dia seguinte, ao depor sobre a tentativa de queimar o equipamento, ele voltou a ser infantil.

Eram infantis suas falas e caretas de descaso com a pandemia e suas atitudes armamentistas quando acionava revólveres imaginários com os dedos. Os filhos, com exceção talvez de Flavio, são infantis.

Sergio Moro, mais do que simplório, foi muitas vezes infantil, como quando disse a Pedro Bial que lia biografias, mas não sabia dizer o título de nenhum livro. É uma criança flagrada na mentira.

Assim como é infantil o famoso powerpoint de Deltan Dallagnol tentando incriminar Lula. Como tem muito de infantilidade o vídeo que o mesmo Dallagnol produziu essa semana para alertar que Bolsonaro estava apenas tentando abrir a tornozeleira para ver se havia uma caixa de escuta no equipamento.

A nova direita, bolsonarista ou não, é infantil porque as pessoas que nela acreditam foram infantilizadas pelo bolsonarismo. Erguem celulares piscantes à espera de marcianos que venham ajudar a aplicar o golpe.

Cantam o hino para pneus. Choram desesperadamente, como se fossem crianças contrariadas, quando algo acontece com Bolsonaro.

Heleno é um deles, mas não há novidade nisso. Líderes autoritários, déspotas e seus cúmplices são adultos que se comportam como crianças más, sem limites e sem escrúpulos, porque são mentalmente crianças.

Sabemos todos que não há mais originalidade alguma na repetição de pretensos clichês freudianos nas abordagens sobre figuras cruéis que se comportam como crianças. Hitler e Mussolini tinham atitudes infantis. Javier Milei é terrivelmente infantil.

Há figuras com atitudes infantis também na velha direita e até na esquerda. Mas elas estão localizadas mesmo no bolsonarismo ou em conexões que as aproximam do extremismo. Sem elas e suas bases infantis, não haveria fascismo.

Moisés Mendes
Moisés Mendes é jornalista em Porto Alegre, autor de “Todos querem ser Mujica” (Editora Diadorim) - https://www.blogdomoisesmendes.com.br/