Sakamoto: General Heleno pôs Brasil em risco se chefiou GSI com Alzheimer

Atualizado em 27 de novembro de 2025 às 6:43
O general Augusto Heleno. Foto: reprodução

Por Leonardo Sakamoto, no Uol

O general Augusto Heleno, um dos generais mais influentes do bolsonarismo e cúmplice do ex-presidente na tentativa de golpe de Estado, afirmou que sofre de Alzheimer desde 2018. Ou seja, um ano antes de assumir o Gabinete de Segurança Institucional da Presidência da República, órgão que concentra a segurança do presidente, a leitura estratégica de risco nacional e a Abin (Agência Brasileira de Inteligência).

A declaração está no exame médico que ele realizou ao dar entrada no Comando Militar do Planalto para cumprimento de sua pena e é a primeira vez que essa informação vem a público.

Pessoas com diagnóstico de Alzheimer podem ter uma vida produtiva, mas, do ponto de vista institucional, um profissional com diagnóstico de demência progressiva não deveria assumir um dos postos mais sensíveis da segurança nacional. Heleno era o guardião do cofre das informações sigilosas da República. O homem que cochichava no ouvido do presidente Jair Bolsonaro, que articulava com a Abin e que desenhou diretrizes estratégicas de ataque às urnas eletrônicas.

Se ele realmente é “portador de demência Alzheimer em evolução desde 2018, com perda de memória recente importante”, como afirmou aos médicos, então o Brasil foi governado, em parte, sob a influência de um ministro que ocultou da população uma condição médica grave que afeta memória e, portanto, o julgamento e a tomada de decisões.

Uma informação que não é detalhe íntimo, mas sim critério básico de segurança nacional.

Nesse caso, sua permanência no cargo foi uma irresponsabilidade gigantesca. Estamos falando de um quadro neurodegenerativo que compromete capacidade cognitiva.

O jornal Correio Brasiliense teve acesso a laudos de exames médicos que afirmam que o diagnóstico de Alzheimer em estágio inicial existe, pelo menos, desde 2022. Ele ainda era ministro-chefe do GSI. Se Heleno ficou sabendo do seu quadro de saúde nesse ano, não informou à sociedade de que estava.

Os exames vão embasar um pedido para progressão ao regime domiciliar sob a justificativa de que mantê-lo preso vai piorar sua condição e pode colocar em risco sua integridade. O general precisa cumprir uma sentença de 21 anos por tentativa de golpe de Estado e organização criminosa.

Mas por que isso veio a público só agora e não quando ele começou a ser julgado pelo crime? Isso poderia ter influenciado a decisão da Primeira Turma com relação ao destino do general. Há uma manipulação da própria condição de saúde para escapar de responsabilidade penal?

O laudo diz que Heleno se apresenta “em bom estado geral, alerta e com sinais vitais regulares”.

General Heleno e Jair Bolsonaro em foto feita de baixo
General Heleno e Jair Bolsonaro. Foto: reprodução

Não há porque duvidar da palavra do general, contudo. E, nas duas hipóteses, o resultado é o mesmo: o país foi colocado em risco.

A pergunta que também ecoa é: Bolsonaro sabia? Porque, se sabia e escondeu, assumiu o risco de entregar o GSI a alguém com limitações cognitivas. Se não sabia, demonstra que não sabia a situação dos seus subordinados, mas mesmo assim se achou capaz de querer tutelar a democracia.

A verdade é que Heleno não foi apenas um general incendiário embalado pelo delírio ideológico do bolsonarismo. Ele assumiu um dos cargos mais estratégicos da República.

O que fica evidente é que, para uma parte da cúpula fardada, preservar o projeto de poder valia mais que preservar a segurança da nação.