De musa desconstruída a tia do ZAP: a derrocada espetacular de Luiza Possi. Por Nathalí

Atualizado em 27 de novembro de 2025 às 8:29
A cantora bolsonarista Luiza Possi. Foto: reprodução

E a Luiza Possi que resolveu dar uma de poetisa pós-olavista e pagou mico no X (antigo Twitter), hein?

Mico não. Aquilo foi mais do que patético, foi a queimação do filme que nunca esteve lá muito bom, e sobretudo escancarou a dúvida: como a onda conservadora consegue fazer tantos artistas jogarem a carreira no lixo?

O caso de Luiza é particularmente mais lamentável do que seus colegas que destruíram a própria imagem panfletando conservadorismo, seja na internet, seja na política partidária (vide Regina Duarte).

Ela, que já performou a imagem de mulher livre, bissexual assumida, desconstruidona, aquela que dizia: “Se eu olhar no seu olho e rolar, você pode se chamar João, Joana, não me importo com isso”, agora aparece recitando versículos como se tivesse virado pastora mirim da Assembleia de Deus.

Curiosamente logo após a prisão de Bolsonaro, a mulher dá as caras na internet falando sobre Bíblia e “nação reconstruída”. Disse que estamos vivendo coisas “muito injustas”, que dão medo, desespero, que estamos “presos” à vontade dos outros e que a única coisa que dá força a ela para continuar é a Bíblia.

Amada, quem está preso é o Bolsonaro. Você está livre pra falar merda, para a tristeza de todos e infelicidade geral da nação.

E quando pensamos que não podia piorar, ela arremata com uma indireta a quem chamou de “pessoas que acham terem mais poder do que Deus” (alô Xandão, deus da Papuda!)

Luiza se converteu ao cristianismo em 2024 e agora, diante da prisão de Bolsonaro, revela suas verdadeiras convicções, sendo rejeitada não só pelo público, mas por dois ex ao mesmo tempo. Eu diria “coitada”, mas estaria mentindo.

Seu ex-marido Pedro Neschling reagiu logo depois das declarações vergonhosas de Luiza, sem citar nomes. Disse que tinha orgulho do cara que era anos atrás e que parece que tem gente que sofreu lobotomia e não reconhecemos mais. “Que doideira. Que maluquice. Que bizarro”, publicou, visivelmente incrédulo diante da caretização da cantora, que não só virou conservadora das piores como notadamente defendia Bolsonaro nas entrelinhas.

Maria Gadú, ex-namorada da cantora, classificou o relacionamento como “um erro”.

Comentário de Maria Gadú em publicação de Luiza Possi. Foto: reprodução

Que péssimo dia para ser Luiza Possi: paga vexame em rede social, perde fãs (e espero que contratos), mancha a própria imagem e de brinde ganha o desprezo dos ex, até envergonhados, em certo ponto.

Relaxem, meus caros. Quem nunca? Todo mundo tem seus tropeços e todo mundo tem um ex para se envergonhar. Estou aqui apenas para não deixar a bizarrice argumentativa dessa mulher passar batida.

Luiza Possi está no mesmo chorume que Regina Duarte e Cássia Kis, desnecessariamente desmoralizadas para sempre na classe artística e entre a maioria dos ex-fãs por defenderem a pauta conservadora de um genocida.

Triste, e eu também faria questão de jamais ser associada à imagem de uma ex-namorada embuste, porque gente quadrada merece dar vexame sozinha.

No fim das contas, Luiza Possi não virou apenas uma tia conservadora qualquer, virou o símbolo perfeito da autossabotagem artística em tempos de delírio ideológico. É triste, mas também pedagógico.

Quem decide bajular um projeto político tóxico costuma acabar exatamente onde ela está agora: falando sozinha, levando invertida de ex, perdendo a relevância que nunca foi lá essas coisas e pedindo a Deus que alguém ainda se importe.

Deus talvez até se importe. O resto de nós? Nem tanto.

Nathalí Macedo
Nathalí Macedo, escritora baiana com 15 anos de experiência e 3 livros publicados: As mulheres que possuo (2014), Ser adulta e outras banalidades (2017) e A tragédia política como entretenimento (2023). Doutora em crítica cultural. Escreve, pinta e borda.