Sakamoto: Centrão teme expurgo se Refit, Master e Carbono Oculto forem até o fim

Atualizado em 28 de novembro de 2025 às 11:59
Congresso brasileiro sob nuvens. Foto: Fabio Rodrigues Pozzebom/Agência Brasil

Por Leonardo Sakamoto, no Uol

Podemos ver um expurgo de personagens da vida pública se as investigações das operações contra a Refit (que deve R$ 26 bilhões em grana sonegada no mercado de combustíveis) e o Banco Master (que vendeu bilhões em papel podre a fundos de pensão de servidores), além da própria Carbono Oculto (na qual a Faria Lima foi envolvida na lavagem de dinheiro do PCC), forem capazes de chegar aos núcleos de apoio político.

Ações como essas fecham a torneira de grana de detentores de cargos públicos e líderes partidários que, até agora, defendiam com vigor nomes como Daniel Vorcaro e Ricardo Magro. Até porque esquemas como os deles, para prosperarem, precisam da ação e da inação de gente nos Três Poderes. Desde lutando contra projetos, como o que pune o devedor contumaz, que ficou parado na Câmara por um longo tempo, até a pressão para que o BRB, comprasse o Master com dinheiro público.

Quando a Polícia Federal começou a investigar, sob a supervisão do ministro Flávio Dino, no STF, os desvios em emendas indicadas por parlamentares em meio ao orçamento secreto, o Congresso Nacional caçou formas de proteger os seus do xilindró. A PEC da Blindagem foi nesse sentido, mas acabou engavetada após comoção popular. Agora, o STF, tão logo termine as ações contra os golpistas, vai começar a julgar os deputados envolvidos nas maracutaias.

Não é à toa que muita bonita crescida no leite de pera esteja com os nervos à flor da pele no parlamento, exigindo que alguém puxe a coleira da PF e da Receita Federal diante das últimas operações. Jogam na conta do governo Lula, ameaçam o fim do mundo com pautas-bomba, falam até em impeachment. Mas operações como essas costumam se beneficiar da percepção das instituições de que elas contam com liberdade para atuar. A partir daí, não dependem da anuência dos mandatários de plantão, mas sim da Justiça, para botar alguém na cadeia.

O presidente da Câmara dos Deputados, Hugo Motta (Republicanos), falando e gesticulando sem olhar para a câmera
O presidente da Câmara dos Deputados, Hugo Motta (Republicanos) – Reprodução

O centrão, que ostentava promiscuidade com o Banco Master e com a Refit, pode passar por um processo de moralização sem precedentes quando as delações dessas operações começarem a pipocar. É incrível a velocidade com a qual pessoas como Vorcaro e Magro podem passar de BFFs a arquivos indesejáveis, inclusive. Nesse ponto de vista, eles estão mais seguros perto da PF do que longe dela. Gestores de fundos da Faria Lima também devem piar em breve, o que pode estremecer gabinetes em São Paulo, Brasília e outras cidades.

Esse processo, que expõe as entranhas do crime realmente organizado no Brasil, aquele que conecta empresários, políticos e até fações criminosas, pode ajudar a refundar a República. Deveria, portanto, ser apoiada por eleitores de todos o espectro político. A disputa agora não é esquerda contra direita.

E, no fim das contas, talvez essa seja a parte mais incômoda para quem sempre nadou de braçada no pântano: quando a briga deixa de ser entre “vermelhos” e “amarelos” e passa a ser entre quem quer manter a engrenagem da pilhagem funcionando e quem topa pagar o preço de desmontá-la.

Porque, se a faxina seguir adiante, não haverá cortina de fumaça capaz de esconder o cheiro de queimado vindo das planilhas, das emendas, das salas acarpetadas. E aí a República, finalmente, poderá descobrir que seu risco nunca foi apenas o discurso inflamado da esquina, mas sim o silêncio cúmplice da elite política que ri da cara da população enquanto pega carona no jatinho do empresário corrupto.