
Em entrevista publicada pelo Estadão neste domingo (30), o ex-ministro da Casa Civil José Dirceu (PT) avaliou o cenário que está se formando para as eleições de 2026 e disse que nenhum candidato deve ganhar força defendendo a anistia a Jair Bolsonaro, mas tampouco vão conseguir se livrar dele, o que representa um problema para a extrema-direita.
Para o petista, o nome para enfrentar Lula (PT) no pleito presidencial tem grandes chances de ser Tarcísio de Freitas (Republicanos), governador de São Paulo. Enquanto isso, na sigla do atual chefe do Governo Federal, Dirceu trabalha nas novas diretrizes que guiarão o Partido dos Trabalhadores nas próximas décadas:
(…) O sr. já foi preso várias vezes. Se pudesse dar um conselho a Bolsonaro sobre prisão, qual seria?
Eu não vou dar conselho nenhum para o Bolsonaro, porque ele não merece. Bolsonaro sempre defendeu prisão perpétua e justificou a tortura. Eles já apresentaram proposta de pena de morte no Brasil. Agora, hipocritamente, querem apresentar projetos para mudar o Código Penal e, conforme o tipo de crime, reduzir as penas. O que eles querem é impunidade.
Mas o PT também recorreu ao discurso de perseguição política quando o presidente Lula e até mesmo o sr. foram presos…
A diferença é que Bolsonaro tentou dar um golpe de Estado e, ainda, tentando envolver as Forças Armadas. É um crime gravíssimo, de alta traição, porque os militares têm o compromisso de honra de defender a Constituição e o Brasil como uma nação soberana. Ele fez o plano “Punhal Verde e Amarelo”, que previa o assassinato do presidente Lula, do vice-presidente Geraldo Alckmin e do ministro do Supremo Tribunal Federal Alexandre de Moraes. Imagine o terror que seria desencadeado no País e o que iria acontecer conosco. […]
O bolsonarismo sem Bolsonaro morreu?
Primeiro que o Bolsonaro está aí. Ele não vai sair de cena. Isso é uma ilusão. Por que a pessoa está presa sai de cena? Não necessariamente. Ele tem um filho senador, um filho deputado, um filho vereador, esposa que quer ser candidata a senadora e tem outro filho que quer ser candidato a senador. Ele tem um partido, o PL. Eu não vejo assim. […]
A direita está refém do Bolsonaro e a esquerda, do presidente Lula?
Bolsonaro lidera parte da direita e principalmente a extrema direita. O problema da direita e daqueles que apoiam o Tarcísio de Freitas como candidato – o establishment agrário e financeiro do País – é que ele se identificou com o bolsonarismo e com o Trump (Donald Trump, presidente dos EUA). E se contaminou com a rejeição de grande parte das classes médias que deram a vitória para Lula, em 2022. Então, eles têm um problema para resolver: precisam do Bolsonaro, mas não querem Bolsonaro. Nós temos um candidato e uma aliança. O presidente Lula é o candidato. […]

O sr. vai coordenar o novo programa do PT para as próximas décadas. O que vai mudar?
O mundo mudou. Há uma nova realidade geopolítica, com a ascensão da China, dos Brics, do Trump (Donald Trump, presidente dos Estados Unidos), e da extrema-direita. Há também uma revolução tecnológica no mundo do trabalho, o problema gravíssimo do crime organizado e a questão climática. É um programa que depois serve de base para a plataforma de governo também. […]
O principal desafio do PT para os próximos anos é a construção do pós-Lula?
A construção do pós-Lula passa pela reconstrução do PT. De 2013 a 2019 nós não podíamos sair às ruas com os símbolos do PT. Quem não tem nomes é a direita. Depois do Bolsonaro, a direita só tem hoje o Tarcísio. No nosso caso, estamos falando de 2030. Fernando Haddad (ministro da Fazenda) é um nome; o Rafael Fonteles, governador do Piauí, está se projetando nacionalmente, o João Campos (prefeito do Recife) amanhã pode ser um candidato. Não tem vazio político”. (…)