Em pronunciamento, Lula anuncia isenções no IR e combate à “injustiça tributária”

Atualizado em 30 de novembro de 2025 às 20:52
Presidente Lula, durante pronunciamento em rede nacional neste domingo (30). Foto: Ricardo Stuckert

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) fez um pronunciamento em rede nacional de rádio e TV na noite deste domingo (30) para explicar as mudanças na tabela do Imposto de Renda. Na fala, ele confirmou que a nova legislação passou a zerar o IR para quem recebe até R$ 5 mil por mês, após a sanção assinada nesta semana. O anúncio integrou a estratégia do governo de detalhar medidas que alteraram a tributação de trabalhadores de baixa e média renda.

Lula afirmou que a atualização da tabela foi construída para recompor perdas acumuladas ao longo dos últimos anos. Segundo o governo, a alteração também prevê descontos para salários de até R$ 7.350 mensais, com impacto direto sobre contribuintes que permaneceriam nas faixas anteriores de cobrança. A mensagem em rede nacional buscou explicar o alcance da medida e informar como o ajuste passou a valer.

No pronunciamento, o presidente afirmou que seguirá combatendo os privilégios da classe mais rica do país, o que chamou de “injustiça tributária”.

“Ao longo de 500 anos, a elite brasileira acumulou privilégios que foram sendo repassados de geração para geração. Entre esses privilégios, talvez o mais vergonhoso seja pagar menos Imposto de Renda do que a classe média e os trabalhadores. Quem vive do seu trabalho chega a pagar 27,5%, enquanto quem vive de renda paga, em média, 2,5%”, argumentou o petista, classificando a situação como “inaceitável”.

Ele citou que o país registrou o menor nível histórico de pobreza e desigualdade desde o início das medições. As informações foram apresentadas como parte do balanço das ações federais concluídas ao longo de 2025.

Lula mencionou também a taxa de desemprego de 5,4%, classificada pelo governo como o menor índice da série iniciada em 2012. De acordo com o presidente, os dados reunidos até outubro indicaram melhora no mercado de trabalho, especialmente pela expansão de postos formais.

O governo contabilizou a criação de 1,8 milhão de empregos com carteira assinada até outubro. O número ultrapassou o total alcançado em 2024 e foi incluído no pronunciamento como dado atualizado do Caged. A fala abordou ainda a distribuição dos novos postos por setores da economia.

Ao longo da transmissão, Lula retomou trechos da agenda social executada desde o início do ano. Ele apresentou indicadores do Ministério do Desenvolvimento e Assistência Social que apontaram redução contínua no contingente de famílias em situação de pobreza.

Segundo o presidente, as medidas de combate à desigualdade são capazes de fazerem a “economia girar”, sendo apenas a isenção no IR responsável pela injeção de R$ 28 bilhões, segundo a estimativa do governo.

“A partir de janeiro do ano que vem, o desconto que hoje sai do contracheque vira dinheiro extra no bolso […] Esse alívio significa mais poder de compra, aumento do consumo e maior movimento na economia. A Receita Federal calculou que, em 2026, esse dinheiro nas mãos do povo vai injetar R$ 28 bilhões na economia, estimulando comércio, indústria, serviços e empreendedorismo, gerando emprego, oportunidades e renda”, explicou o presidente.

“Seguiremos firmes, combatendo os privilégios de poucos para defender os direitos de muitos”, finalizou Lula. O pronunciamento foi gravado no Palácio da Alvorada e transmitido às 20h30 por emissoras de rádio e televisão em todo o país.

Leia o pronunciamento na íntegra: 

“Minhas amigas e meus amigos, o Brasil mudou nesta última semana. Pela primeira vez, mais de cem anos após o início do Imposto de Renda, privilégios de uma pequena elite financeira deram lugar a uma conquista para a maioria do povo brasileiro. Na quarta-feira, dia 26 de novembro, assinei a lei que acaba com o Imposto de Renda para quem ganha até R$ 5.000 por mês. A proposta do nosso governo foi aprovada pela Câmara e pelo Senado por unanimidade e passa a valer em janeiro de 2026. Se você ganha até R$ 5.000, dezembro será o último mês com desconto do imposto no contracheque. A mesma lei reduz o imposto de quem recebe entre R$ 5.000 e R$ 7.350, que agora pagará menos do que antes.
Com imposto zerado, uma pessoa que recebe R$ 4.800 pode economizar cerca de R$ 4.000 por ano, quase um 14º salário. E essa compensação não virá de cortes na educação ou na saúde, mas da taxação dos super-ricos — aqueles que ganham mais de R$ 1 milhão por ano e hoje pagam pouco ou nenhum imposto. Estamos falando de 0,1% da população, pessoas que recebem 10, 20 ou 100 vezes mais do que 99% dos brasileiros. Eles vão contribuir com 10% de imposto sobre a renda para garantir alívio às famílias que trabalham e movem o país. São 140 mil super-ricos pagando um pouco mais para que milhões deixem de pagar. Mais do que corrigir a tabela do Imposto de Renda, a nova lei enfrenta a principal causa da desigualdade no Brasil: a injustiça tributária.
Ao longo de 500 anos, a elite brasileira acumulou privilégios que foram sendo repassados de geração para geração. Entre esses privilégios, talvez o mais vergonhoso seja pagar menos Imposto de Renda do que a classe média e os trabalhadores. Quem vive do seu trabalho chega a pagar 27,5%, enquanto quem vive de renda paga, em média, 2,5%. Pessoas que moram em mansões, têm dinheiro no exterior, carros importados e jatos particulares pagam dez vezes menos do que professoras, policiais ou enfermeiras. É inaceitável que alguém que luta para ter moradia, anda de ônibus, compra um carro com esforço e paga muito mais imposto do que bilionários. Era preciso mudar — e nós estamos mudando.
A partir de janeiro do ano que vem, o desconto que hoje sai do contracheque vira dinheiro extra no bolso. Para viajar com a família, comer o que gosta, comprar presentes de Natal, quitar dívidas, adiantar prestações ou comprar uma televisão maior para ver a Copa do Mundo. Esse alívio significa mais poder de compra, aumento do consumo e maior movimento na economia. A Receita Federal calculou que, em 2026, esse dinheiro nas mãos do povo vai injetar R$ 28 bilhões na economia, estimulando comércio, indústria, serviços e empreendedorismo, gerando emprego, oportunidades e renda. O país inteiro será beneficiado.
Em menos de três anos, recolocamos o Brasil entre as dez maiores economias do mundo, tiramos o país do mapa da fome pela segunda vez, alcançamos a menor inflação acumulada da história e a menor taxa de desemprego. O salário mínimo voltou a subir acima da inflação. Fortalecemos o Bolsa Família, criamos o Pé-de-Meia, reajustamos a alimentação escolar, ampliamos o acesso à universidade para jovens negros, indígenas e periféricos. Aumentamos o Plano Safra, os recursos da agricultura familiar, criamos o programa Luz do Povo para reduzir a conta de luz das famílias e lançamos o Gás do Povo, porque não é justo que famílias paguem até 10% do salário mínimo por um botijão.
Graças a essas e outras políticas, a desigualdade é hoje a menor da nossa história. Ainda assim, seguimos sendo um dos países mais desiguais do mundo: 1% mais rico concentra 63% da riqueza nacional, enquanto a metade mais pobre detém apenas 2%. É riqueza demais concentrada nas mãos de poucos. A mudança no Imposto de Renda é um passo decisivo para transformar essa realidade, mas é apenas o começo. Não vamos parar. Queremos que o povo brasileiro tenha direito à riqueza que produz com o suor do próprio trabalho.
Seguiremos firmes, combatendo os privilégios de poucos para defender os direitos de muitos. Nosso governo está do lado do povo brasileiro, construindo um país mais próspero, mais forte e, sobretudo, mais justo. Muito obrigado”.