Fundos de pensão tiveram R$ 500 milhões desviados pelo Master, indica PF

Atualizado em 1 de dezembro de 2025 às 11:06
Daniel Vorcaro, dono do Banco Master. Foto: Reprodução

Uma investigação da Polícia Federal (PF) apontou que o Banco Master e empresas ligadas ao grupo desviaram cerca de R$ 500 milhões de fundos de pensão de servidores públicos, revelando um esquema que envolve intermediárias financeiras, aportes de alto risco e manobras consideradas fraudulentas desde meados de 2010.

Os documentos obtidos pelo UOL mostram que o banco, seus gestores e parceiros são alvo de apurações que seguem abertas em vários estados.

Relatórios da PF mencionaram Daniel Vorcaro, dono do Master, mas uma decisão da desembargadora Maria do Carmo Cardoso, do TRF-1, impediu sua denúncia em 2021 sob o argumento de que ele só assumiu o controle do banco naquele ano.

A PF, porém, apontou que empresas usadas nos investimentos já integravam a rede familiar administrada por Vorcaro desde 2016.

O banqueiro foi preso preventivamente em 17 de novembro por suspeita de fraude que retirou R$ 12,2 bilhões do BRB e solto no último sábado.

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O dono do Banco Master, Daniel Vorcaro, após ser solto no último sábado (29/11). Foto: Reprodução

Fraude em fundos de pensão

A apuração começou em Rondônia, no fundo de servidores de Rolim de Moura, e levou à Operação Fundo Fake, em 2020. A PF identificou desvio de recursos por meio do Master e da administradora Foco DTVM em fundos de pelo menos 20 municípios, com aportes em estados como São Paulo, Rio, Minas, Goiás, Santa Catarina e Tocantins.

O maior aporte fraudado foi do Igeprev-TO, com R$ 62 milhões enviados à Foco. Em seguida veio o Impremu (Uberlândia), com R$ 47 milhões. Segundo os investigadores, os valores eram aplicados em fundos de “altíssimo risco”, muitos deles registrando prejuízo logo nos primeiros anos.

Um dos casos citados é o investimento do Fundo São Domingos na obra do hotel Golden Tulip, em Belo Horizonte. O projeto, ligado a Vorcaro e ao então Banco Máxima, consumiu R$ 200 milhões e acabou paralisado.

Outro exemplo é o fundo Monte Carlo, administrado pela Foco, que comprou R$ 14,5 milhões em debêntures da empresa da família Vorcaro, a Milo Investimentos.

Superavaliação e risco contínuo

Os documentos apontam uma “superavaliação criminosa” dos ativos dos fundos do Master, anunciados como tendo R$ 1,4 bilhão — mas que, segundo a PF, valiam perto de R$ 500 milhões.

Laudos registraram que “a gestão fraudulenta dos seus fundos, que vem ocorrendo de meados de 2010 até os dias atuais, vem lesando os cofres dos entes públicos”. Outro trecho afirma que “a dilapidação dos patrimônios dos RPPS […] tem que ser cessada”.

Mesmo após o trancamento da primeira investigação, a PF abriu outro inquérito para apurar gestão fraudulenta e lavagem de dinheiro envolvendo Vorcaro e dirigentes do Grupo Multipar e do Grupo Máxima. Mas a mesma desembargadora voltou a encerrar a investigação em 2022, alegando que Vorcaro ainda não chefiava o Master no período analisado. Ela também encerrou uma apuração sobre fraude e propina em Ji-Paraná (RO).

Maria do Carmo é amiga do senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ). No governo do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), ela emplacou uma indicação sua, o ministro Nunes Marques, na vaga de ministro do STF (Supremo Tribunal Federal).

Desembargadora Maria do Carmo Cardoso durante posse como desembargadora federal
A desembargadora Maria do Carmo Cardoso, do TRF-1. Foto: Reprodução

Fundos ainda têm R$ 1,8 bilhão no Master

Apesar das investigações, o grupo continuou recebendo recursos. Hoje, 18 fundos de pensão têm R$ 1,8 bilhão aplicados no Master — valores elevados e fora da cobertura do FGC.

A Rioprevidência concentra o maior montante (R$ 970 milhões), seguida pela Amprev (R$ 400 milhões) e pelo Iprev de Maceió (R$ 97 milhões).

A liquidação do Master pelo Banco Central, em 17 de novembro, expôs a risco a aposentadoria de milhares de servidores. As apurações sobre o envolvimento de gestores de fundos serão conduzidas em inquéritos separados do caso BRB.