VÍDEO – Conselheira que cuidou de Vaqueirinho desabafa: “Meu menino sem juízo”

Atualizado em 1 de dezembro de 2025 às 16:05
A conselheira tutelar Verônica Oliveira e Gerson de Melo Machado, o Vaqueirinho. Foto: Reprodução

A conselheira tutelar Verônica Oliveira publicou um relato sobre os oito anos em que acompanhou Gerson de Melo Machado, o Vaqueirinho, morto após invadir o recinto de uma leoa no Parque Arruda Câmara, em João Pessoa. Logo no início do texto, ela recorda a insistência do garoto em falar sobre leões.

“Gerson, meu menino sem juízo… Quantas vezes, na sala do Conselho Tutelar, você dizia que ia pegar um avião para ir a um safári na África cuidar de leões? Você ainda tentou”, escreveu em nota enviada à imprensa, lembrando de um episódio em que ele cortou a cerca do aeroporto e entrou no trem de pouso de um avião.

Verônica relatou que conheceu Gerson quando ele tinha apenas 10 anos, depois de ser encontrado sozinho na BR-230 pela Polícia Rodoviária Federal (PRF). Ao longo dos anos, ela o viu passar por diferentes unidades de acolhimento.

“Eu nunca consegui ver você como as redes sociais te pintavam. Eu conheci a criança destituída do poder familiar da mãe”, disse. A mãe e a avó sofrem de esquizofrenia, e ele, por já apresentar sinais de transtornos, foi o único dos cinco irmãos que não conseguiu ser adotado.

“A sociedade, sem conhecer sua história, preferiu te jogar na jaula dos leões”, completou a conselheira. Verônica também divulgou um vídeo revoltada falando sobre a situação. Veja:

Segundo ela, a falta de políticas públicas para jovens com transtornos mentais agravou a vulnerabilidade de Gerson. Ela afirmou que, em João Pessoa, não existem albergues ou programas capazes de garantir acompanhamento após os 18 anos. “Depois que ele fez 18 anos, ele foi entregue à própria sorte. Saiu do acolhimento institucional e entrou no sistema prisional”, contou.

O laudo confirmando esquizofrenia surgiu apenas quando ele entrou no sistema socioeducativo, embora os sinais já fossem evidentes na infância. “A gente já sabia que era esquizofrenia, porque ele ouvia vozes… mas aí já era tarde demais”, afirmou. Para Verônica, a ausência de diagnóstico e tratamento adequados contribuiu diretamente para a trajetória errática do jovem.

O fascínio por leões nunca desapareceu. “Ele tinha falas desde muito pequeno de que ia para a África porque ia domar os leões”, relatou. O apego aos animais também era marcante: certa vez, ao ser acolhido, chegou ao Conselho Tutelar acompanhado de um cachorro e avisou que só aceitaria ficar se pudesse levá-lo junto.

Caique Lima
Caique Lima, 27. Jornalista do DCM desde 2019 e amante de futebol.