
A Polícia Federal investiga a participação da Clínica Mais Médicos, em Contagem, na Grande Belo Horizonte, em um esquema que teria sido usado para inflar artificialmente o patrimônio do Banco Master, controlado pelo empresário Daniel Vorcaro.
Segundo a PF, a clínica emitiu R$ 361 milhões em notas comerciais entre 2021 e 2025, apesar de possuir capital social de R$ 700 mil. Os títulos foram comprados exclusivamente por um fundo de investimentos cujo único cotista é o próprio banco, o que levantou suspeitas de manipulação contábil.
A Comissão de Valores Mobiliários afirma que os valores declarados pela empresa são muito superiores à sua capacidade econômica. A CVM abriu um processo administrativo e encaminhou denúncia ao Ministério Público Federal.
Em paralelo, a investigação aponta que o Hospital São José, também em Contagem e presidido por Valdenice Pantaleo de Souza, repetiu o mesmo padrão: R$ 213,9 milhões em notas emitidas no período. Ele, que aparece como dirigente das duas instituições, é apontada pelo MPF como possível “laranja” de Daniel Vorcaro.
A Justiça Federal afirma que, ao emitir valores muito acima da receita real, as empresas poderiam “mascarar a real condição econômico-financeira da instituição”, prejudicar a precificação dos títulos e “induzir investidores em erro quanto ao risco efetivo dessas operações”.

O esquema, segundo a PF, teria movimentado pelo menos R$ 12 bilhões. Vorcaro foi preso no Aeroporto de Guarulhos na noite de 17 de novembro, quando tentava deixar o país. A corporação o classifica como o principal beneficiário da fraude e o acusa de gestão fraudulenta, gestão temerária e organização criminosa. Ele foi alvo da Operação Compliance Zero, que apura irregularidades no Banco Master.
As operações descritas na investigação envolveriam a emissão de notas que simulavam fluxo financeiro robusto, prática que, segundo os investigadores, teria sido decisiva para apresentar ao mercado uma imagem artificial de solidez.
A Justiça afirma que esse artifício poderia afetar decisões de investidores que compram títulos lastreados nesses documentos. A CVM reforça que esse mecanismo de emissão acima da receita é incompatível com a legislação e representa risco sistêmico.
O órgão afirma que continuará repassando informações ao MPF e à PF para aprofundamento das apurações. Os procuradores consideram que o uso de empresas com pouca capacidade econômica para gerar lastro a operações milionárias é um indicativo de ocultação de patrimônio.
A defesa da Clínica Mais Médicos afirma que todas as atividades são legais e que Valdenice Pantaleo de Souza é apenas acionista minoritária. Em nota, a empresa diz estar “à disposição das autoridades” e sustenta que confia na “elucidação completa e transparente dos fatos”. A clínica afirma que encaminhou voluntariamente toda a documentação solicitada pelos investigadores e que cumpre seu “papel social” de prestação de serviços de saúde.