
A investida de Michelle Bolsonaro contra a articulação do PL cearense com Ciro Gomes detonou uma crise aberta entre ela e os três filhos mais velhos de Jair Bolsonaro.
A ex-primeira-dama foi ao Ceará depois de um pedido direto do ex-presidente para marcar presença no lançamento da pré-candidatura de Eduardo Girão ao governo estadual. No palco, porém, ela confrontou o acordo costurado pelo deputado André Fernandes, responsável por aproximar o PL local de Ciro.
Fontes próximas a Michelle afirmam que ela foi ao evento para atender a Bolsonaro. Alegam ainda que a crítica expressa por ela não tinha o objetivo de enfraquecer o ex-presidente. Mesmo assim, a fala caiu como uma afronta para Flávio, Eduardo e Carlos, que entenderam o discurso como intromissão numa negociação que, segundo eles, já tinha sido chancelada pelo próprio pai.
No evento, Michelle disparou: “É sobre essa aliança que vocês precipitaram a fazer. Fazer aliança com quem ataca o maior líder da direita não dá. A pessoa continua dizendo que a família é de ladrão, de bandido. Compara o presidente Bolsonaro a ladrão de galinha. Então, não tem como”.
Flávio Bolsonaro foi o primeiro a reagir. Disse ao Metrópoles que Michelle “atropelou” a orientação do pai e acusou a postura dela de ser “autoritária” e “constrangedora”. Eduardo Bolsonaro reforçou a crítica e afirmou nas redes sociais que o acordo com Ciro foi definido por Bolsonaro. Carlos seguiu os irmãos e cobrou respeito às decisões do ex-presidente.
A rusga trouxe à tona tensões acumuladas desde a prisão de Jair Bolsonaro. Com o ex-presidente distante do comando diário, aliados relatam desgaste crescente entre Michelle e os filhos, especialmente Flávio, que assumiu o papel de voz principal da família e diverge da ex-primeira-dama sobre as articulações para 2026.
Meu irmão @FlavioBolsonaro está correto. Foi injusto e desrespeitoso com o @andrefernm o que foi feito no evento. Não vou entrar no mérito de ser um bom ou mal acordo, foi uma posição definida pelo meu pai.
André não poderia ser criticado por obedecer o líder. https://t.co/9e8am5fcpo
— Eduardo Bolsonaro🇧🇷 (@BolsonaroSP) December 1, 2025
Integrantes do centrão classificaram a atitude de Michelle como “erro gravíssimo”. Para esse grupo, ela atacou publicamente um movimento que já estava costurado e que contava com aval de Bolsonaro. Pesquisas internas sustentavam o gesto: Ciro aparece à frente no estado, enquanto Girão não demonstra força eleitoral — em Fortaleza, na disputa municipal passada, teve pouco mais de 1%.
A confusão ampliou a percepção de que, sem Bolsonaro atuando diretamente, os atritos internos deixaram de ser abafados e se tornaram recorrentes.