
Essa chamada esteve na capa da Folha durante um bom tempo na semana passada. Vamos recuperá-la, para que seja bem compreendida:
“Um mês após operação mais letal da história, investigação no Rio não consegue ligar mortes a autores”.
E agora a abertura do texto dessa chamada da Folha:
“Um mês depois da operação policial mais letal da história do Rio de Janeiro, a investigação da Promotoria ainda não conseguiu apontar quem são os autores das 122 mortes ocorridas em confronto na ação, cinco delas policiais”.
A manchete confunde o que o texto esclarece nas primeiras linhas. O título escamoteia a informação que importa. Ligar morte a autores? Que história é essa?
A manchete, ao invés de fazer voltas enrolativas, deveria dizer o seguinte:
“Promotores não conseguem identificar os matadores da chacina do Rio”.

A Folha, o Globo e o Estadão continuam, por medo do fascismo, chamando ‘a matança de a operação mais letal’. Não têm coragem nem de dizer que foi a operação mais mortal.
Porque a palavra letal engana, dá a entender que é outra coisa eufemística, e assim o jornalismo passa a usar nas manchetes a linguagem dos doutores de porta de delegacia, delegados, promotores, juízes e juristas.
Os jornais entraram na conversa dos operadores do Direito. É a síndrome da hermenêutica. É assim que os jornalistas passam a dizer, como diz a direita, que os assassinados pelas polícias vêm a óbito.
Não morrem, não são assassinados, não são chacinados, eles vêm a óbito em decorrência de operações letais. O jornalismo das corporações passa mal e também está perto de vir a óbito. Assassinado pelos donos, com a cumplicidade de muitos jornalistas.