A reunião do PL que tenta conter racha no clã Bolsonaro e impor o papel de Michelle

Atualizado em 2 de dezembro de 2025 às 8:18
Michelle Bolsonaro (PL) durante evento de lançamento da pré-candidatura de Eduardo Girão (Novo) ao governo do estado do Ceará. Foto: Vitor Alcazar

A reunião marcada pelo PL para esta terça-feira (2) deve servir para redesenhar o papel de Michelle Bolsonaro no partido e tentar conter o racha aberto entre ela e os filhos do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), conforme informações do Globo.

Apesar do discurso oficial de busca por “união”, lideranças afirmam que o encontro tende a delimitar de forma explícita os limites de atuação da ex-primeira-dama, lembrando que o comando do PL Mulher é apenas honorífico e não confere poder de decisão sobre estratégias nacionais.

Participam da reunião o presidente nacional da sigla, Valdemar Costa Neto, e lideranças do Congresso, como o vice-presidente da Câmara, Altineu Côrtes (RJ), e o senador Rogério Marinho (RN). A ideia, segundo dirigentes, é reforçar que decisões que impactem a disputa de 2026 devem partir exclusivamente de Jair Bolsonaro, preso na Superintendência da PF.

Os filhos do ex-presidente, que atuaram de forma coordenada contra Michelle após suas falas no Ceará, avaliam baixar o tom caso a reunião encerre o impasse. Para eles, já ficou claro que não aceitarão ser “desautorizados” pela madrasta e que o discurso público deve voltar à “união”.

Brincadeira de Michelle e disputa por protagonismo

O conflito começou após Michelle fazer uma piada durante reunião interna do PL, relatando que havia preparado milho cozido para o marido e chamando-o de “meu galo”. Em seguida, afirmou que Bolsonaro precisava provar ser “imbrochável”, referência às “medalhas dos 3 is”.

A brincadeira irritou os filhos, especialmente o senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ), que pediu a palavra e alertou sobre o risco de gravações vazadas associarem o pai à impotência.

Ele reforçou que todas as decisões deveriam emanar do ex-presidente, num movimento interpretado como tentativa de impedir que Michelle ganhasse peso nas escolhas eleitorais — especialmente na disputa pela vaga ao Senado por Santa Catarina, onde ela prefere Caroline de Toni e Bolsonaro indicou Carlos Bolsonaro.

A medalha dos “3 is”, entregue por Bolsonaro a aliados. Foto: Reprodução

Críticas públicas no Ceará aprofundaram o racha

A crise se agravou no último domingo, quando Michelle, no lançamento da pré-candidatura do senador Eduardo Girão (Novo-CE) ao governo do estado, criticou a aproximação do PL local com Ciro Gomes, articulação conduzida pelo deputado André Fernandes (PL).

“É sobre essa aliança que vocês precipitaram a fazer. Fazer aliança com o homem que é contra o maior líder da direita, isso não dá. A pessoa continua falando que a família é de ladrão, é de bandido. Compara o presidente Bolsonaro a ladrão de galinha. Então, não tem como”, disse ela na ocasião.

A fala foi tratada pelos filhos como intervenção indevida em um movimento que, segundo eles, havia sido autorizado por Bolsonaro.

Reação dos filhos

Flávio afirmou ao Metrópoles que a ex-primeira-dama “atropelou” orientações do pai e classificou a postura como “autoritária”.

“A Michelle atropelou o próprio presidente Bolsonaro, que havia autorizado o movimento do deputado André Fernandes no Ceará. E a forma com que ela se dirigiu a ele, que talvez seja nossa maior liderança local, foi autoritária e constrangedora”, disse.

Eduardo Bolsonaro endossou a fala do irmão: “Meu irmão Flávio Bolsonaro está correto. Foi injusto e desrespeitoso com o André o que foi feito no evento (…) foi uma posição definida pelo meu pai.”

Carlos Bolsonaro também se alinhou: “Temos que estar unidos e respeitando a liderança do meu pai, sem deixar nos levar por outras forças.”