
A investigação sobre o Banco Master deve ganhar novos contornos nos próximos dias e pode alcançar diretamente o meio político. Documentos apreendidos pela Polícia Federal durante a Operação Compliance Zero indicam suspeitas de envolvimento de parlamentares no esquema de carteiras de crédito falsas. Com isso, o inquérito deve ser encaminhado à Procuradoria-Geral da República (PGR), e qualquer nova diligência dependerá de autorização do Supremo Tribunal Federal (STF).
Na última segunda-feira (1º), o depoimento do ex-presidente do Banco de Brasília (BRB) Paulo Henrique Costa, marcado para ocorrer na Superintendência da PF, foi adiado sem explicação. A expectativa era de que Costa detalhasse como o BRB adquiriu bilhões em títulos inexistentes do Banco Master.
Seu advogado, Cleber Lopes, havia afirmado ao Correio Braziliense que a oitiva teria “importância muito grande” para o avanço das apurações e reiterou que o ex-dirigente está “convencido de que prestará todos os esclarecimentos necessários”.
Um dos alvos no Congresso tendem a ser o deputado federal João Carlos Bacelar (PL-BA). A PF encontrou, na casa de Vorcaro, um documento sobre investimentos imobiliários ligados ao parlamentar bolsonarista.

Enquanto isso, a cúpula do BRB passa por reestruturação. Nelson Antônio de Souza assumiu a presidência após aprovação na CLDF e aval do Banco Central. A posse foi seguida por um ato simbólico com o governador do Distrito Federal, Ibaneis Rocha (MDB), que reafirmou apoio político ao novo comando.
O banco informou que a definição dos demais cargos da diretoria e do Conselho de Administração seguirá critérios de governança, com comunicação prévia ao mercado e análise pelo Comitê de Elegibilidade, pelo próprio Conselho e pelo Banco Central.
O BRB também determinou auditoria interna para reavaliar contratos de patrocínio e revisar áreas de Compliance, Riscos e Governança. A instituição afirma que está finalizando a contratação de um escritório jurídico e de assessoria técnica para apuração forense das operações envolvendo o Master.
A investigação ganhou força após a PF prender Daniel Vorcaro, então presidente do Banco Master, no aeroporto de Guarulhos durante operação deflagrada em 18 de novembro. Vorcaro foi liberado dias depois por decisão do TRF-1, mas segue monitorado por tornozeleira eletrônica.
Segundo as apurações, o BRB teria comprado R$ 12,2 bilhões em carteiras de crédito sem documentação adequada, movimento classificado pelo Banco Central como “temerário”.
A operação ocorreu dois meses após o BC barrar a compra do controle acionário do Master pelo BRB por R$ 2 bilhões, alegando risco de incorporação de ativos problemáticos. O veto levou o Banco Central a enviar documentos ao Ministério Público Federal apontando indícios de crimes contra o Sistema Financeiro Nacional, o que desencadeou a participação da PF no caso.
Com o avanço das investigações, a Justiça Federal afastou Paulo Henrique Costa e o diretor de Finanças do BRB, Dario Oswaldo Garcia Júnior, por 60 dias. Ambos, porém, foram demitidos pelo governador Ibaneis Rocha.
O BRB afirma que, dos R$ 12,76 bilhões envolvidos na transação irregular, mais de R$ 10 bilhões já foram liquidados ou substituídos, e que todo o processo foi acompanhado pelo Banco Central. A instituição reforça ainda que é credora na liquidação extrajudicial do Master e que suas operações atuais seguem padrão adequado.