Isolado e cercado por ratos: Vorcaro passou 5 dias sozinho na prisão após ameaças

Atualizado em 2 de dezembro de 2025 às 9:43
Daniel Vorcaro, dono do Banco Master. Foto: Reprodução/Esfera Brasil

A rotina de Daniel Vorcaro durante os cinco dias em que permaneceu preso no Centro de Detenção Provisória 2 de Guarulhos (SP) expôs um cenário incomum para um empresário do alto escalão do sistema financeiro. Alvo da Operação Compliance Zero, o dono do Banco Master não dividiu cela com outros detentos, como ocorre normalmente.

Por causa de ameaças recebidas, segundo a coluna de Lauro Jardim, no jornal O Globo, ele foi levado desde o primeiro dia para um espaço isolado de 4 m², onde passava 23 horas sem contato com outros presos, exceto pelas visitas inesperadas de ratos que circulavam pelo local.

De acordo com relatos encaminhados às autoridades, Vorcaro tinha direito a apenas uma hora de banho de sol por dia. O CDP 2, inaugurado em 2002, tem capacidade para 553 detentos, e abrigava 454 na semana da prisão, número abaixo da superlotação que marca a maioria dos presídios brasileiros.

Ainda assim, o empresário enfrentou uma rotina marcada por isolamento extremo e condições adversas enquanto aguardava decisão judicial.

CDP 2 de Guarulhos (SP), onde Vorcaro ficou preso. Foto: reprodução

Saída da prisão

A prisão preventiva foi revertida após a defesa anexar aos autos um documento decisivo do Banco Central. O relatório descrevia uma reunião, ocorrida horas antes da ação policial, entre Vorcaro e dirigentes do BC, na qual ele comunicou verbalmente que viajaria para Dubai para tratar de negociações com investidores estrangeiros. O órgão ressaltou, porém, que não recebeu “correspondência, e-mail ou mensagem escrita” oficializando a viagem.

A videoconferência, realizada entre 13h30 e 14h10, antecedeu a prisão ocorrida por volta das 22h, quando Vorcaro foi detido ao tentar embarcar em um jato particular com destino a Malta. O documento foi fundamental para que a desembargadora Solange Salgado substituísse a prisão por medidas cautelares, como tornozeleira eletrônica, retenção de passaporte e proibição de contato com investigados.

“Os impetrantes anexaram prova demonstrando que o paciente comunicou previamente ao Banco Central sua viagem internacional com destino a Dubai”, escreveu a magistrada, afirmando que o risco de evasão é “controlável”.

As investigações mencionam relatos de técnicos do BC à PF e ao Ministério Público sobre episódios de “pressão política” incomum em defesa do Master. No ofício enviado pela defesa, o próprio BC detalhou que Vorcaro afirmou ter negociado com a Mastercard para liberar recursos bloqueados e que buscava dividir o conglomerado em três partes para facilitar a venda.

Ele também disse que pretendia “anunciar a venda do Banco Master S.A.” ainda no dia 17 de novembro e que assinaria, no dia seguinte, a alienação da Will Financeira. A venda do Banco Master de Investimentos ocorreria até o fim daquela semana.

A desembargadora ressaltou em sua decisão que “os delitos atribuídos ao paciente não envolvem violência ou grave ameaça à pessoa” e que “não há demonstração de periculosidade acentuada”. Por isso, considerou suficientes as medidas alternativas. Com a revogação, Vorcaro deixou o CDP e passou a responder ao processo em liberdade, enquanto o Banco Central decretava a liquidação extrajudicial do Master no mesmo período.

Mesmo em liberdade, o empresário permanece monitorado e dentro do centro das investigações sobre fraudes financeiras estimadas em R$ 12,2 bilhões, que seguem em curso nas instâncias federais.

Augusto de Sousa
Augusto de Sousa, 31 anos. É formado em jornalismo e atua como repórter do DCM desde de 2023. Andreense, apaixonado por futebol, frequentador assíduo de estádios e tem sempre um trocadilho de qualidade duvidosa na ponta da língua.