
A rotina de Daniel Vorcaro durante os cinco dias em que permaneceu preso no Centro de Detenção Provisória 2 de Guarulhos (SP) expôs um cenário incomum para um empresário do alto escalão do sistema financeiro. Alvo da Operação Compliance Zero, o dono do Banco Master não dividiu cela com outros detentos, como ocorre normalmente.
Por causa de ameaças recebidas, segundo a coluna de Lauro Jardim, no jornal O Globo, ele foi levado desde o primeiro dia para um espaço isolado de 4 m², onde passava 23 horas sem contato com outros presos, exceto pelas visitas inesperadas de ratos que circulavam pelo local.
De acordo com relatos encaminhados às autoridades, Vorcaro tinha direito a apenas uma hora de banho de sol por dia. O CDP 2, inaugurado em 2002, tem capacidade para 553 detentos, e abrigava 454 na semana da prisão, número abaixo da superlotação que marca a maioria dos presídios brasileiros.
Ainda assim, o empresário enfrentou uma rotina marcada por isolamento extremo e condições adversas enquanto aguardava decisão judicial.

Saída da prisão
A prisão preventiva foi revertida após a defesa anexar aos autos um documento decisivo do Banco Central. O relatório descrevia uma reunião, ocorrida horas antes da ação policial, entre Vorcaro e dirigentes do BC, na qual ele comunicou verbalmente que viajaria para Dubai para tratar de negociações com investidores estrangeiros. O órgão ressaltou, porém, que não recebeu “correspondência, e-mail ou mensagem escrita” oficializando a viagem.
A videoconferência, realizada entre 13h30 e 14h10, antecedeu a prisão ocorrida por volta das 22h, quando Vorcaro foi detido ao tentar embarcar em um jato particular com destino a Malta. O documento foi fundamental para que a desembargadora Solange Salgado substituísse a prisão por medidas cautelares, como tornozeleira eletrônica, retenção de passaporte e proibição de contato com investigados.
“Os impetrantes anexaram prova demonstrando que o paciente comunicou previamente ao Banco Central sua viagem internacional com destino a Dubai”, escreveu a magistrada, afirmando que o risco de evasão é “controlável”.
As investigações mencionam relatos de técnicos do BC à PF e ao Ministério Público sobre episódios de “pressão política” incomum em defesa do Master. No ofício enviado pela defesa, o próprio BC detalhou que Vorcaro afirmou ter negociado com a Mastercard para liberar recursos bloqueados e que buscava dividir o conglomerado em três partes para facilitar a venda.
Ele também disse que pretendia “anunciar a venda do Banco Master S.A.” ainda no dia 17 de novembro e que assinaria, no dia seguinte, a alienação da Will Financeira. A venda do Banco Master de Investimentos ocorreria até o fim daquela semana.
A desembargadora ressaltou em sua decisão que “os delitos atribuídos ao paciente não envolvem violência ou grave ameaça à pessoa” e que “não há demonstração de periculosidade acentuada”. Por isso, considerou suficientes as medidas alternativas. Com a revogação, Vorcaro deixou o CDP e passou a responder ao processo em liberdade, enquanto o Banco Central decretava a liquidação extrajudicial do Master no mesmo período.
Mesmo em liberdade, o empresário permanece monitorado e dentro do centro das investigações sobre fraudes financeiras estimadas em R$ 12,2 bilhões, que seguem em curso nas instâncias federais.