A volta do cipó: justiça vai pra cima dos crimes do lavajatismo

Atualizado em 3 de dezembro de 2025 às 17:59
Procuradores da Lava Jato. Foto: Divulgação

Por Miguel do Rosário, publicado no Cafezinho

Uma operação de busca e apreensão da Polícia Federal na 13ª Vara de Curitiba, realizada hoje, quarta-feira, 3 de dezembro de 2025, e determinada pelo ministro Dias Toffoli, relator do inquérito no Supremo Tribunal Federal (STF), sinaliza um novo e decisivo capítulo na história política recente do Brasil.

As estruturas da cúpula do Judiciário e da Procuradoria-Geral da República (PGR) parecem ter aguardado a conclusão do processo de responsabilização dos envolvidos nos atos golpistas de 8 de janeiro para iniciar um outro grande acerto de contas que as instituições devem à democracia: a investigação dos crimes cometidos pela Operação Lava Jato.

A diligência foi autorizada para que a PF acessasse e apreendesse documentos, mídias, arquivos digitais e registros físicos na vara que concentrou os principais processos da Lava Jato, incluindo casos anteriores à operação. A medida foi tomada após a Justiça Federal do Paraná descumprir reiteradamente ordens judiciais para envio de materiais ao STF.

O foco desta nova fase não é a corrupção que a operação se propôs a combater, mas os supostos abusos que ela própria teria gerado. Trata-se de investigar denúncias de crimes cometidos pelo sistema de justiça que operou a partir de Curitiba contra a economia nacional, o setor produtivo e o próprio país.

Segundo as investigações em curso, agentes públicos teriam usado o poder da toga e da investigação para arrancar indenizações milionárias ou até mesmo bilionárias de empresários. Esses recursos teriam sido desviados para fundos das próprias instituições jurídicas do Estado — Polícia Federal, Ministério Público e Judiciário do Paraná.

Conforme apontam relatórios e denúncias, o dinheiro teria sido usado para bônus, diárias de viagem e outros gastos institucionais que, segundo críticos da operação, acabaram gerando benefícios para os agentes envolvidos.

As suspeitas ganharam força com as denúncias do juiz federal Eduardo Appio. Ele assumiu a 13ª Vara em 8 de fevereiro de 2023, substituindo Sergio Moro, e permaneceu no cargo por apenas 103 dias, até 23 de maio de 2023.

Nesse curto período, ao ter acesso aos arquivos da operação, Appio identificou o que considerou graves irregularidades. Em um ato que muitos juristas classificaram como de coragem cívica, apresentou em maio de 2023 uma representação à Corregedoria Nacional de Justiça, então sob o comando do ministro Luis Felipe Salomão, denunciando o que havia descoberto.

A bravura do juiz não parou por aí. Ele detalhou sua experiência no livro “Tudo por Dinheiro: A Ganância da Lava Jato segundo Eduardo Appio”, lançado em outubro de 2024 pela editora Kotter.

Críticos da operação apontam que o excesso de prisões preventivas teria sido uma ferramenta deliberada para criar um ambiente de terror. Empresários teriam sido forçados a aceitar acordos financeiros que, em muitos casos, levaram à dilapidação de empresas estratégicas para o interesse nacional.

Eduardo Appio, da 13ª Vara Federal da Justiça Federal do Paraná — Foto: Reprodução/Justiça Federal

Um relatório do próprio CNJ, elaborado a partir das denúncias de Appio, apontou uma “gestão caótica” no controle dos valores bilionários dos acordos de leniência e delação da Lava Jato. O documento investigou ainda a tentativa de criação de uma fundação privada para gerir R$ 2,5 bilhões oriundos de um acordo com a Petrobras.

Essa ação, segundo o relatório, teria envolvido diretamente o ex-juiz Sergio Moro, o ex-procurador Deltan Dallagnol e a juíza Gabriela Hardt. Eles teriam agido para desviar os recursos que deveriam ter sido destinados à União.

Denúncias do ex-advogado da Odebrecht, Tacla Duran, reforçam esse quadro ao indicar que agentes da Lava Jato teriam usado o dinheiro das delações premiadas para benefícios próprios. O ex-deputado estadual Tony Garcia também acusa Sergio Moro de tê-lo coagido a realizar gravações clandestinas de autoridades em troca de benefícios em delação premiada.

Em nota divulgada à imprensa, Moro negou as acusações e afirmou que as buscas “apenas confirmarão que os relatos de Tony Garcia são mentirosos”.

Segundo analistas, a narrativa da luta contra a corrupção teria escondido, conforme as acusações, a atuação de agentes extorquindo empresários.

Conforme essa investigação se acelera, a imagem da Lava Jato, já arranhada por diversas denúncias, pode sofrer um golpe fatal. A situação pode acabar por provocar a anulação geral de todos os processos conduzidos pelas figuras centrais da operação, que até hoje permanecem politicamente ativos sem punições por esses supostos crimes.

Segundo fontes consultadas pelo Cafezinho, a possível indicação de Jorge Messias ao STF teria como uma de suas missões conduzir esses processos com rigor.

Outras fontes comentam que o próprio presidente Lula, que foi uma das principais vítimas das perseguições políticas promovidas pela Lava Jato, caso seja reeleito e consiga uma base parlamentar mais sólida, estaria em posição de liderar uma articulação política mais dura contra os crimes cometidos pela operação, embora sem interferir na independência judicial dos que conduzem os processos.

O objetivo, segundo observadores, seria garantir que esses crimes não se repitam. E criar uma jurisprudência para esse tipo de investigação, um arcabouço jurídico menos vulnerável a operações que, segundo economistas, atrasaram talvez em décadas o desenvolvimento econômico nacional.

Como diz o ditado popular: é a volta do cipó de aroeira no lombo de quem mandou dar.