Professor Francisco Teixeira denuncia ameaças de general: “Nada me deterá”

Atualizado em 4 de dezembro de 2025 às 12:25
Francisco Teixeira, historiador e professor titular da UFRJ. Foto: Reprodução

O historiador Francisco Teixeira, professor titular da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro) e referência nos estudos de História Moderna, Contemporânea e Teoria da Guerra, tornou pública uma denúncia sobre intimações judiciais e ameaças recebidas depois de enfrentar figuras que defendem o regime militar.

Ele afirma que seu trabalho está na mira de um processo que busca reparar a imagem da ditadura e impor censura.

Teixeira foi acionado judicialmente pelo general da reserva Álvaro Pinheiro, que o acusa de calúnia, difamação e “falsificação da história”. O militar pede indenização e a cassação dos títulos acadêmicos do professor.

Além disso, Teixeira relata ter recebido mensagens agressivas com ameaças contra sua vida e sua integridade física.

O episódio revela como a ausência de mecanismos de justiça após o fim do regime alimentou novas tentativas de cerceamento. Ele diz viver uma repetição de investidas que, em diferentes momentos, procuraram intimidá-lo e limitar seu trabalho.

Aos 71 anos, Teixeira afirma que mantém a disposição de enfrentar o ataque. Ele lembra que sua trajetória começou ainda jovem, em defesa da democracia, e garante que seguirá produzindo pesquisas e publicações sobre o período autoritário. Afirma que pretende converter o processo judicial em um debate público sobre o regime e seus agentes.

O professor destaca que sua passagem pelo Ministério da Defesa e a convivência com setores militares durante anos forneceram material importante para lançar luz sobre estruturas que permanecem pouco examinadas.

“Nada me deterá ou me amedronta”, afirma.

O general da reserva Álvaro Pinheiro. Foto: Reprodução

Leia a nota na íntegra:

Rio de Janeiro, 03/12/2025

“Um passado que não passa…”

Conforme a famosa frase do historiador alemão Ernst Nolte, vivo hoje um triste reviver de tempos que imaginava superados. Hoje fui intimado por um oficial de justiça em um processo no qual sou acusado de calúnia, difamação e falsificação da História (sic!!!) pelo conhecido general Álvaro Pinheiro, que exige indenização e a cassação de meus títulos universitários. Desde algumas semanas, venho também recebendo grosseiras ameaças contra minha vida e minha integridade física, de origens desconhecidas. Agora, meu trabalho livre de cinco décadas como historiador está sob risco de ser silenciado por meio de ameaças e lawfare.

O fato de a transição democrática brasileira ter sido estranha ao conceito de justiça de transição permite, pela terceira vez, que eu e meu trabalho sejamos colocados sob risco de mordaça. Trata-se de um caso único, em uma democracia moderna, de um historiador ser ameaçado por um membro ativo de um regime ditatorial já encerrado.

Aos 71 anos de idade, tenho, entretanto, a mesma força dos 18 ou 19 anos, quando lutei, com milhares de outros brasileiros, pela democracia e pela liberdade do Brasil. Mais que julgar um professor, prometo àqueles que querem calar a História que tal processo será levado adiante como um processo daqueles anos sombrios. Tais ameaças antidemocráticas serão transformadas, de uma ameaça pessoal, em um julgamento da própria ditadura e de seus agentes.

Os anos que passei no Ministério da Defesa e em suas organizações militares — onde fiz verdadeiros amigos — servirão de base para expor um mundo sobre o qual ainda não se fez luz. Estou velho e cansado e, no entanto, com o coração batendo forte do lado certo do peito, orgulhoso de ter lutado o bom combate, o que meus acusadores, com certeza, não podem dizer de suas carreiras. Volto ao combate certo de que escreverei mais livros e artigos sobre tempos tão sombrios. Nada me deterá ou me amedrontará.

Sou historiador da mesma matéria, talvez de menor gênio, que Marc Bloch. Historiadores, como elefantes, não esquecem e não se amedrontam.

Francisco Carlos Teixeira da Silva
Professor Titular de História Moderna e Contemporânea / UFRJ
Professor Emérito de Teoria da Guerra / Eceme / Exército Brasileiro
Doutor Honoris Causa — UFS.