
O relatório “Desafios de Inteligência – Edição 2026”, produzido pela Abin (Agência Brasileira de Inteligência), alerta que o avanço do crime organizado transnacional, combinado a fragilidades institucionais e interferência externa, ameaça a autonomia política da América Latina. O documento afirma que essas vulnerabilidades podem ser usadas como justificativa para intervenções sob o argumento de combater o “narcoterrorismo”.
A agência aponta que sua função é assessorar o presidente com informações estratégicas em áreas como fronteiras, terrorismo e narcotráfico. “A região enfrenta pressões por alinhamentos e está exposta à interferência de potências estrangeiras, que exploram fragilidades internas — como dissidências políticas e o avanço do crime organizado — sob pretextos securitários (como o ‘narcoterrorismo’) para minar a soberania e a autodeterminação política”.
Segundo a coluna de Paulo Cappelli no Metrópoles, embora o texto não cite Venezuela ou Estados Unidos, a Abin manifestou ao Planalto preocupação com movimentos de Washington. A Polícia Federal compartilhou avaliação semelhante com o presidente Lula.

Para integrantes da cúpula da PF, há supostos interesses financeiros dos EUA por trás de ofensivas militares recentes na região. A Abin relaciona esse cenário a episódios em que tensões internas se sobrepõem a disputas por recursos estratégicos e ao aumento de pressões políticas, econômicas e militares de potências estrangeiras sobre governos que buscam autonomia.
Nos últimos meses, os EUA realizaram bombardeios no Caribe contra embarcações atribuídas ao narcotráfico e elevaram o tom contra a Venezuela. O presidente Donald Trump afirmou que ataques terrestres podem ocorrer “muito em breve”, citando críticas ao regime de Nicolás Maduro e ao que chama de “narcoterrorismo”.
A Abin acredita que maior integração regional ajudaria a reduzir vulnerabilidades e equilibrar forças diante de potências externas.
O relatório alerta ainda para o risco de militarização indireta da Amazônia. A agência aponta que argumentos ambientais podem ser usados como pretexto para intervenções, sobretudo em áreas sensíveis e ricas em recursos naturais. Esse movimento, segundo o documento, amplia preocupações sobre soberania territorial.