O “plano secreto de guerra” da Alemanha contra a Rússia

Atualizado em 4 de dezembro de 2025 às 15:21
Militar alemão. Foto: Bernd von Jutrczenka/dpa/picture alliance

A Alemanha desenvolveu um plano secreto de guerra para responder a uma eventual ofensiva russa, revela o jornal The Wall Street Journal. O documento, chamado “OPLAN DEU” (“Plano de operações da Alemanha”), tem 1,2 mil páginas e descreve como o país poderia mobilizar e receber até 800 mil soldados alemães, americanos e de outros países da Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte).

Entre as previsões estão rodovias que virariam pistas de pouso, “cidades” erguidas em duas semanas e uma operação logística capaz de sustentar tropas rumo à Europa Oriental.O plano foi elaborado há cerca de dois anos e meio, quando militares alemães acreditavam que a Rússia poderia atacar a Otan em 2029.

Porém, episódios recentes de sabotagem, espionagem e invasões do espaço aéreo europeu atribuídos a Moscou levantaram a suspeita de que um conflito poderia ocorrer antes. Analistas afirmam que um eventual cessar-fogo na Ucrânia daria à Rússia tempo e recursos para reorganizar forças e ameaçar países aliados.

A localização geográfica da Alemanha faz do país uma peça central em qualquer resposta militar da Otan. Com os Alpes bloqueando a passagem ao sul, seria por território alemão que tropas e equipamentos cruzariam rumo ao front. Por isso, o OPLAN DEU detalha rotas ferroviárias e rodoviárias, portos, sistemas de abastecimento, alojamento e proteção das tropas em deslocamento.

O plano também é apresentado como ferramenta de dissuasão. Um dos autores afirmou: “O objetivo é prevenir a guerra deixando bem claro para nossos inimigos que, se eles nos atacarem, não serão bem-sucedidos”. A intenção é demonstrar prontidão e capacidade logística suficiente para desencorajar qualquer avanço russo sobre territórios da Otan.

O presidente da Rússia, Vladimir Putin. Foto: Ramil Sitdikov/AFP

O maior desafio está na mudança de mentalidade alemã após a Guerra Fria. O país adotou um “otimismo pacífico” que levou ao abandono de antigas estruturas de uso dual, como autobahns projetadas para virar pistas de pouso. Muitas dessas funcionalidades foram perdidas em obras posteriores, criando gargalos para um eventual esforço de guerra.

Hoje, calcula-se que 20% das rodovias e 25% das pontes precisariam de reforma para suportar veículos militares de grande porte. Nos portos do Mar do Norte e do Báltico, são estimados investimentos de 15 bilhões de euros, incluindo 3 bilhões destinados especificamente à adaptação para uso militar.

Empresas privadas já estão envolvidas, como a Rheinmetall, que construiu um acampamento completo para 500 soldados em apenas 14 dias — uma “cidade construída do nada”, segundo fonte citada pelo jornal.

A operação, contudo, expôs limitações: falta de espaço para todos os veículos e terreno irregular que obrigou o transporte de soldados entre áreas distantes. Mesmo assim, as forças armadas dizem estar confiantes. “Considerando que começamos do zero no início de 2023, estamos muito satisfeitos com o ponto onde estamos hoje. É um projeto muito sofisticado”, afirmou um dos coautores do OPLAN DEU.

Caique Lima
Caique Lima, 27. Jornalista do DCM desde 2019 e amante de futebol.