Advogadas de todo o Brasil protestam contra matéria machista do site de direita Poder360

Atualizado em 5 de dezembro de 2025 às 20:36
Danyelle Galvão

Uma matéria do site Poder360 sobre a advogada Danyelle Galvão provocou uma mobilização de mulheres advogadas de todo o Brasil.

Com mais de 20 anos de carreira e ocupando o cargo de magistrada no Tribunal Regional Eleitoral de São Paulo (TRE-SP), ela foi reduzida a “namorada de José Dirceu”, e com uma breve citação de sua posição como “advogada” e “juíza substituta”.

Danyelle, mestre e doutora em direito processual penal pela USP, professora de mestrado no IDP-Brasília, ex-Conselheira da OAB/SP e atual presidente da UMA (União das Mulheres Advogadas), além de ter defendido parlamentares de diferentes espectros políticos, viu seu trabalho sendo desconsiderado em favor de seu vínculo com o ex-ministro, ignorando seu currículo e suas realizações.

Advogadas de diversas entidades criticaram, na sexta-feira (5), a abordagem da matéria, destacando que ela reflete uma prática comum de subestimar o histórico profissional de mulheres advogadas, sempre as posicionando como coadjuvantes de seus maridos, companheiros ou associados.

A vice-presidente da OAB-SP, Daniela Magalhães, expressou indignação em nota, afirmando que a lógica de diminuir a carreira das mulheres advogadas a vínculos afetivos “apaga diplomas, pesquisas, cargos conquistados e décadas de dedicação”.

O Instituto de Garantias Penais (IGP) também se manifestou, dizendo que a matéria “atinge não só Danyelle, mas toda a advocacia feminina” e criticou a perpetuação de estereótipos machistas que buscam reduzir as mulheres a narrativas que desconsideram suas conquistas pessoais.

A advogada Maria Claudia Bucchianeri, ex-ministra do TSE, ressaltou a dor que é ver carreiras jurídicas consolidadas serem apagadas em função do status do parceiro, uma postura que, segundo ela, perpetua a ideia de que as mulheres estão condenadas a ser coadjuvantes, independentemente de seu protagonismo nas suas áreas.

Para as advogadas envolvidas no movimento, o protesto não é contra um veículo de comunicação específico, mas sim uma luta contínua pela conscientização sobre o papel das mulheres na advocacia. Renata Mariz, presidente da AASP (Associação dos Advogados de São Paulo), afirmou que o apelo é para que as mulheres advogadas, e todas as profissionais, sejam respeitadas por suas trajetórias profissionais, e não apenas pelas suas relações pessoais ou familiares.

Danyelle emitiu uma nota pública:

É preciso mais respeito com a advocacia feminina
Danyelle Galvão

Com surpresa e tristeza li a nota no Poder 360 intitulada “Namorada de Dirceu na defesa do Careca do INSS”, que reduz minha advocacia e minha história a uma relação pessoal, e joga suspeita sobre minha atividade profissional, insinuando que pautaria a defesa de alguém para blindar pessoas ou partidos.

O bom jornalismo se pauta pela boa informação, e referida nota não comunica fatos essenciais sobre os personagens e sobre o caso. Assumi a defesa de Antonio Camilo Antunes, atualmente conhecido como Careca do INSS, há pouco mais de um mês, após a renúncia dos antigos defensores.

Não fui contratada por ser namorada desta ou daquela figura, mas pela minha qualificação profissional. Sou advogada criminal há 20 anos, Desembargadora do TRE de São Paulo, mestre e doutora em direito processual penal pela Faculdade de Direito do Largo de São Francisco (USP), professora do mestrado profissional do IDP-Brasília, ex-Conselheira da OAB/SP e presidente da UMA – União das Mulheres Advogadas que hoje reúne 700 advogadas em todas as regiões do Brasil.

Na advocacia já atuei para Senadores, Deputados Federais e Estaduais de todos os espectros políticos, empresários dos mais variados setores e em casos de grande e pequena repercussão nos Tribunais Superiores, todos os Tribunais Regionais Federais e diversos Tribunais de Justiça do país. Representa ainda pessoas vulneráveis e sem condições financeiras que eu e minha equipe atendemos pro bono há anos ou mesmo a associação de juízes estaduais que atendo – com minha equipe – há mais de 12 anos, tendo defendido dezenas de magistrados em processos administrativos disciplinares e criminais perante Corregedoria de Justiça estadual e Conselho Nacional de Justiça.

Sou juíza substituta do TRE -SP desde março de 2023 e estou no meu segundo mandato. Fui convidada a figurar na lista sêxtupla enviada pelo TRE ao TJSP em agosto de 2022 e fui a advogada mais votada pelo Órgão Especial do TJSP naquela oportunidade. Depois de assumir, fiquei exercendo a titularidade – pela ausência de juiz titular – em dos momentos que somaram treze meses, período que proferi mais de 2 mil decisões monocráticas e fui relatora de 800 acordãos. Desde a minha primeira nomeação, em março de 2023, já figurei em mais três listas do TRE -SP (duas para tornar juíza titular e mais uma a minha própria recondução à substituta), sempre com votações expressivas do Órgão Especial do TJSP e sem qualquer apontamento pelo TSE.