
A viagem do ministro Dias Toffoli a Lima, no fim de novembro, ainda provoca repercussões. O deslocamento ocorreu no jato particular do empresário Luiz Osvaldo Pastore, figura conhecida tanto no meio empresarial quanto na política — inclusive fora do Brasil. Pastore já concorreu ao Senado italiano por uma sigla da ultradireita e, nas eleições municipais de 2024, distribuiu doações volumosas para candidatos alinhados ao bolsonarismo. Entre eles, o prefeito reeleito de São Paulo, Ricardo Nunes, que recebeu R$ 150 mil.
A viagem
Toffoli, relator da investigação sobre fraudes financeiras envolvendo o Banco Master, embarcou rumo a Lima na manhã de 28 de novembro para assistir à final da Libertadores entre Palmeiras e Flamengo. No retorno, em 30 de novembro, estavam a bordo nomes ligados ao caso. Um deles era o advogado Augusto Arruda Botelho, defensor do diretor de compliance do Master, Luiz Antonio Bull, investigado pela Polícia Federal.
Dois dias após o retorno do ministro a Brasília, ele determinou sigilo rigoroso no inquérito que atinge o presidente do banco, Daniel Vorcaro.
Toffoli afirmou a pessoas próximas que não discutiu trabalho no voo. Disse ainda que Pastore é amigo de longa data e negou proximidade com Botelho. Segundo essas mesmas pessoas, o ministro não sinalizou qualquer intenção de se afastar da relatoria.
Toffoli foi procurado por meio da assessoria do STF, mas não comentou. Botelho também não se manifestou. Entre os demais passageiros estavam o filho do advogado, o ex-ministro Aldo Rebelo e outras 11 pessoas.

O vínculo entre Pastore e a política brasileira
A atuação eleitoral do dono do jato chama atenção. Pastore destinou R$ 1,2 milhão a campanhas em 2024. A maior fatia foi para Janad Valcari (PL), candidata bolsonarista em Palmas, que recebeu R$ 450 mil. Ela disputou o segundo turno contra Eduardo Siqueira, do Podemos.
Ricardo Nunes, em São Paulo, recebeu R$ 150 mil. Outras doações incluíram R$ 100 mil para Eduardo Guedes (Solidariedade) em Itatiaia, R$ 100 mil para Irineu Nogueira (MDB) no mesmo município e R$ 100 mil para o diretório do PP no Mato Grosso do Sul.

Pastore é filiado ao MDB e chegou ao Senado em 2022, quando assumiu temporariamente a vaga de Rose de Freitas. No mesmo ano, foi candidato a primeiro suplente de Flávia Arruda. Antes disso, em 2018, tentou uma cadeira no Senado italiano pela Liga Norte, legenda de Matteo Salvini.
Empresário bilionário
Com patrimônio estimado em mais de R$ 450 milhões, Pastore atua nos setores de importação e transformação de cobre e alumínio. Ele se apresenta como empresário global e, durante sua campanha na Itália, dizia querer representar a América do Sul no Senado daquele país.
Avanços da investigação
Enquanto a viagem segue cercada de questionamentos, o caso Master também ganhou novos desdobramentos. Na quarta-feira (3), Toffoli determinou que o STF supervise as apurações, já que há menção ao deputado federal João Carlos Bacelar, que possui foro.
Entre os materiais apreendidos pela PF está um contrato imobiliário em que o parlamentar é citado. Bacelar afirma ter participado de um fundo imobiliário e que Vorcaro demonstrou interesse, mas o negócio não avançou.
Bull e Vorcaro foram soltos pelo TRF-1 e seguem com tornozeleira eletrônica.