Sakamoto: PF atinge ‘Excel’ de Lira e indica que ação contra emendas será apocalipse

Atualizado em 12 de dezembro de 2025 às 18:41
Arthur Lira em coletiva de imprensa após reunião para discutir arcabouço fiscal e reforma tributária, na Residência Ofical do Senado. Foto: Divulgação

Por Leonardo Sakamoto, no Uol

A Polícia Federal bateu hoje à porta de Mariângela Fialek, que atuava como o “Excel” de Arthur Lira (PP-AL), planilha viva das remessas de emendas parlamentares, guardiã das fórmulas, dos desvios, dos valores ocultos e, principalmente, engrenagem que alimentava e, ao que tudo indica, ainda alimenta o poder do deputado como presidente da Câmara.

A PF diz que encontrado indícios de que a ex-assessora de Lira continuou atuando na Presidência da casa para manter o orçamento secreto mesmo após a saída do deputado do comando.

E a operação, autorizada pelo ministro Flávio Dino, lembra o porquê há gente no Congresso buscando formas de viabilizar o impeachment de membros do STF.

Nos bastidores, a palavra que define o clima é pânico. Não há outro termo. Deputados e senadores, acostumados à velha máxima de que verba pública gosta de sigilo, começaram a fazer contas que não fecham, e não é por falta de competência, mas por excesso de rastros.

A farra das emendas, que muitos juravam estar enterrada, reaparece através da investigação de uma servidora. E ressurge como morta-vivo para morder os calcanhares de quem tratou dinheiro público como moeda para a própria reeleição ou para comprar coquetel de camarão.

Fialek era mais do que uma operadora: era uma instituição. Teria autonomia melhor que o sistema da própria Casa para fazer alocações e mudanças e guardava quem pediu, quem recebeu, quem negociou. Ao colocar as mãos nos registros dessa base de dados humana, a Polícia Federal não mira apenas indivíduos – mira toda a lógica de poder que permitiu a um presidente da Câmara governar como primeiro-ministro informal do país.

Mariângela Fialek, a Tuca, ex-assessora de Arthur Lira. Foto: Reprodução

A ironia é que, durante anos, parlamentares defenderam a distribuição de emendas como um “ato republicano”. Agora, diante de Dino, descobriram o sentido original de República: prestação de contas. E isso, convenhamos, é o que mais assusta o pessoal com mandato.

O ministro, por sua vez, segue o roteiro que vinha anunciando desde o início: Pinho Sol e Cândida no orçamento. Para tanto, a PF, a PGR e o STF não têm apenas instrumentos jurídicos, mas também disposição política e, ao que tudo indica, uma montanha de dados que pode reconfigurar a correlação de forças em Brasília. Não é exagero dizer que a operação de hoje é um trailer do filme apocalíptico que vem por aí. Lembrando que apocalipse, em grego clássico, significa “descoberta”, “revelação”.

Se por muitos anos o orçamento secreto foi comparado a uma caixa-preta, Dino e a PF decidiram abrir não só a caixa, mas o porão inteiro. E quando a luz acende, ninguém escolhe quais sombras vão aparecer primeiro.

O Congresso sabe disso. E teme não apenas a operação de hoje, mas o que ela simboliza: o início de um processo que pode expor, com precisão cirúrgica, o maior experimento de privatização da coisa pública já realizado. Se a apreensão dos arquivos de Fialek confirmar o que muitos suspeitam, 2026 pode começar com menos certezas, menos líderes intocáveis e muito mais parlamentares ensaiando discursos sobre ética, transparência e mal-entendidos contábeis.

A verdade é que a PF não atingiu apenas o “excel” de Lira. Ela apertou Ctrl+F no coração do sistema político brasileiro. E, pelo visto, vai encontrar mais ocorrências do que o Congresso está preparado para admitir. Estamos vendo, neste momento, o desenrolar do verdadeiro Inquérito do Fim do Mundo.