
Com o mandato suspenso, o deputado federal Glauber Braga (PSOL-RJ) concedeu entrevista ao DCM nesta terça-feira (16), na qual comentou a trajetória da defesa de seu mandato diante do que classifica como assédio político promovido pelo presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-PI). Segundo o parlamentar, o caso sofreu uma reviravolta a partir da mobilização popular e da excelência m articulação política.
Durante a conversa, Glauber destacou o papel do governo do Lula na criação de condições políticas que possibilitaram a reversão do cenário e a preservação de seus direitos políticos. O deputado também analisou o que chamou de “a podre política no Rio de Janeiro” e reiterou as denúncias que faz contra Arthur Lira, a quem atribui o comando do chamado Orçamento Secreto.
A vitória sobre Arthur Lira
Estou mais aliviado, mas com a certeza de que a gente tem muita coisa pela frente. Isso foi só um pedacinho mediante os dramas que a gente está vivenciado no mundo. Vencer uma batalha como essa, que para muitas pessoas parecia perdida, evidentemente dá ânimo e dá folego. Aproveito para agradecer a solidariedade de todas as pessoas que se envolveram, pois foi fundamental, essa batalha quente onde as pessoas pegaram na mão, vieram junto, se mobilizaram, denunciaram. Mas meu misto de alívio vem com cansaço e muita energia.
Eu tenho a consciência do tamanho dessa vitória e sei que só foi possível por conta de um processo coletivo de disputa quente, não é heroísmo institucional, como se eu tivesse dentro de um gabinete e tivesse uma ideia genial, não, foi uma ação que se viabilizou pelo acumulado das lutas e que tornou possível ação diplomática na reta final. Se não fossem os movimentos se mobilizarem no Conselho de Ética em todas as reuniões, a solidariedade durante a greve de fome, as plenárias lotadas ao longo de um mês e 18 dias percorrendo todos os estados brasileiros, passeata dentro da Câmara, mobilização das pessoas no dia da votação, articulação nas redes que tornou esse o assunto mais comentado do país, não seria possível. Tudo isso casou para que no dia da votação houvesse também a articulação diplomática, a orientação por parte do governo no painel de votação e eu sou grato por isso. Agora isso vem de uma grande mobilização que para mim é a grande vitória, que mostra que dá para disputar a quente e vencer, esse é o grande signo dessa vitória e sou muito grato a quem foi solidário durante todo esse processo.
Lugar da esquerda é na rua
Os atos de rua são fundamentais por uma decisão política. Tinha muita gente nas manifestações, mas ainda que não tivesse, o espaço da esquerda é a praça pública, é a rua, ela não pode ficar resumida ao quadrado institucional. Essa decisão política de estar sempre na rua, de estar se mobilizando com as pessoas é fundamental para derrotar a extrema direita e as investidas do centrão, nesse combo golpista que eles botarão em votação. Eu acho sim que tem influência no Senado Federal. Na PEC da blindagem eles voltaram atrás, então o jogo está todo modificado. Daqui um pouco começa o recesso parlamentar. Já recebi a notícia que o presidente do Senado queria avançar o presidente da CCJ disse “Não, calma, tem que analisar primeiro por aqui”. Isso só é possível se existe respaldo e denúncia mobilizada na rua, que foi exatamente o que aconteceu domingo.
Eles tentam o tempo todo livrar a cara dos golpista, mas não estão preocupados com os bagrinhos, estão preocupados só com os líderes. No final das contas o que a proposta fazia era na prática quase que diminuir a pena de Jair Bolsonaro. Eles perderam folego com isso quando associaram a pauta da anistia com a PEC da blindagem, que foi muito impopular e na minha avalição a continuidade da mobilização pública contra essa anistia é fundamental porque esses caras estão perdendo as bandeiras deles. Eles perderam a bandeira do enfrentamento à corrupção, ainda que fosse hipócrita, eles perderam a bandeira do Brasil, que utilizavam de maneira covarde, agora aqui no Rio de Janeiro eles estão perdendo Copacabana também. Esse processo de ampliação e mobilização permanente é o que defende o conjunto das nossas pautas e tem influência direta sobre a não aprovação da anistia.
O papel do governo Lula na vitória de Glauber
O governo teve papel fundamental nessa vitória, primeiro na solidariedade de toda a militância de esquerda, a militância do PT teve um papel muito importante. O papel da ministra Gleisi Hoffmann e a presença dela durante a greve de fome, isso ampliou a repercussão da denúncia e deu sinal verde para que outros ministros também estivessem lá se solidarizando, assim como o ministro Sidônio, que também esteve me visitando. As articulações do Deputado Lindbergh que desde o primeiro momento foi solidário, a Benedita abrindo espaço na cadeira para que eu pudesse estar presidindo aquela sessão e depois eu tendo ocupado a mesa, a orientação do próprio governo no painel de votação contra a cassação. Sou grato e não posso deixar de manifestar publicamente essa posição. Se dissessem que isso vem de alguém que não tem posições políticas e que são críticas e de tensionamento da esquerda, mas não, é de alguém que se manifesta e se apresenta por completo, que faz enfrentamento fundamentais e as vezes desagrada a institucionalidade, mas ainda assim houve essa solidariedade por parte do governo e do PT nessa sua orientação de plenário. Foi muito importante.
Arthur Lira comanda o orçamento secreto
Arthur Lira é o principal responsável pela criação e consolidação do orçamento secreto. Essa operação não surgiu do nada; ela foi sendo construída ao longo do tempo, a partir do acúmulo de indícios e informações, até que se tornou inevitável. Não se tratou de uma investigação baseada apenas em depoimentos isolados. Mariângela, considerada braço direito de Arthur Lira, já vinha sendo acompanhada por decisão judicial, e esse monitoramento acabou revelando novos elementos relevantes para o caso. Foi a soma desses fatores, e não um único episódio, que levou à deflagração da operação.
A minha expectativa é de que, com o avanço das investigações, não se limite a responsabilização apenas a quem foi diretamente alvo da ação, mas que se chegue também ao comando, à orientação política e à articulação que sustentaram esse esquema. Espero que o processo aponte para quem idealizou, orientou e deu respaldo às práticas investigadas. E, nesse contexto, é de conhecimento público que o nome no centro dessa engrenagem é Arthur Lira.
A podre política do Rio de Janeiro
O apodrecimento das altas estruturas do Rio de Janeiro é evidente e ninguém aguenta mais isso. O que está sendo exposto agora precisa se tornar em um processo de mobilização que altere isso e essa é uma tarefa coletiva. Evidente que a Policia Federal tem desempenhado um papel importante em casos como o de Cláudio Castro e Bacellar, mas se isso não vier de um levantar da população da classe trabalhadora mudando as estruturas, eles simplesmente farão a reposição de quem são esses agentes. Aconteceu isso por exemplo quando o Rodrigo Bacellar substituiu o poder que era do MDB, em um passado recente. Essa turma precisa ser devidamente responsabilizada.
O destino político de Glauber
Uma candidatura ao Senado não é avaliada como uma hipótese. É evidente que com o que aconteceu se ampliam impressões positivas para que eu seja pré-candidato à reeleição a candidato federal, inclusive, também como uma resposta a todas esses perseguições, mas as nossas consultas, percorrendo as cidades, por um ponto de vista de estratégia eleitoral, colocam sob hipóteses plausíveis além da possibilidade de candidatura a reeleição para a Câmara federal, também ter meu nome à disposição para candidatura a governador do Rio de Janeiro.