
A AtlasIntel divulgada hoje faz mais do que apresentar números. Ela desmonta uma narrativa cuidadosamente fabricada e difundida ontem. Confirma, ponto a ponto, a suspeita que levantei a respeito da pesquisa da Quaest e dos chamados “desejos da encomenda” travestidos de certezas consolidadas.
O problema, como era previsível, nunca esteve no suposto “humor do eleitor”, mas na forma como a Quaest escolheu formular perguntas, definir recortes e, sobretudo, ordenar a exposição dos dados para anunciar que Flávio seria o candidato mais competitivo entre todos os pré-candidatos da extrema-direita.
Quando as questões adequadas são colocadas e os resultados tratados com um mínimo de honestidade analítica, o quadro se recompõe. A AtlasIntel de hoje apenas recoloca a realidade em seu devido lugar. Michelle aparece com desempenho superior ao de Flávio e Tarcísio, e os três seguem rigorosamente comprimidos dentro da margem de erro.

Flávio nunca — em momento algum, sob hipótese nenhuma — apresentou desempenho eleitoral que justificasse o veredito da Quaest. Tampouco foi, desde então, o preferido da extrema-direita, sobretudo após o episódio do debate para a prefeitura do Rio de Janeiro, em 2016, quando fez cocô nas calças e protagonizou um vexame público que marcou de forma indelével sua trajetória política.
É estatística elementar, mas também política em estado bruto. A diferença entre a AtlasIntel e a encenação oferecida pela Quaest não se restringe aos números; reside na intenção que os organiza. Enquanto a Atlas aceita e revela um empate técnico — incômodo, aberto, instável — a Quaest tentou vender, ontem, uma hierarquia artificial, insistindo em cravar Flávio isolado em segundo lugar em todos os cenários, como se a realidade devesse obediência a um roteiro previamente aprovado.
Pesquisa não é oráculo, tampouco instrumento legítimo de ordenamento simbólico do jogo político. Quando assume esse papel, deixa de informar e passa a induzir. A AtlasIntel, desta vez, cumpriu o que se espera de um levantamento sério: expôs a complexidade do momento. A Quaest optou por outro caminho, apostando numa condução enviesada do olhar público — acredita quem quer, repercute quem precisa.

Tudo isso reforça a necessidade de recolocar a pergunta feita ontem. Por que a Faria Lima demonstra tamanho empenho em alavancar a candidatura de Flávio Bolsonaro?
Em política, como em estatística, as ausências também falam. Hoje, a AtlasIntel ajudou a preencher um vazio que ontem foi cuidadosamente preservado. Convém prestar atenção. Em ano eleitoral, quando interesses econômicos poderosos se movimentam para redefinir o rumo do país e reordenar o poder em seu benefício, novas “verdades” embaladas em formato de pesquisa ainda surgirão; QUAESTadas serão publicadas em profusão e com direito a assento exaustivo nas bancadas da Globonews.