Von der Leyen diz que acordo Mercosul-UE terá apoio da maioria após adiamento

Atualizado em 19 de dezembro de 2025 às 6:38
A presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen. Foto: Reprodução

Após o adiamento da assinatura do tratado, a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, afirmou nesta sexta-feira (19) que há apoio suficiente entre os Estados-membros da União Europeia para aprovar o acordo comercial entre o bloco e o Mercosul.

Segundo ela, a maioria necessária para concluir o pacto está garantida, apesar das resistências internas que levaram ao atraso.

Na quinta-feira (18), von der Leyen comunicou às autoridades que o acordo não será mais assinado neste sábado (20). Após a divulgação da decisão, ela declarou a jornalistas que a Comissão Europeia entrou em contato com os parceiros sul-americanos para adiar a formalização.

“Entramos em contato com nossos parceiros do Mercosul e concordamos em adiar ligeiramente a assinatura”, afirmou, acrescentando que está “confiante” de que existe maioria suficiente para concluir o acordo, de acordo com a Reuters.

Assinatura adiada para 2025

Segundo fontes diplomáticas, a presidente da Comissão confirmou que a conclusão do acordo foi transferida para janeiro. A mudança de cronograma levou governos e agentes políticos a recalibrar as expectativas em torno do tratado, negociado há 25 anos.

A Comissão Europeia pretendia selar o pacto nesta semana, criando a maior zona de livre comércio do mundo. O plano, no entanto, foi revisto após a Itália se alinhar à França para exigir o adiamento e buscar garantias adicionais ao setor agrícola.

Resistência francesa trava avanço imediato

O principal foco de oposição ao acordo segue sendo a França. O presidente Emmanuel Macron afirmou que o país não apoiará o tratado sem novas salvaguardas para os agricultores franceses.

“Quero dizer aos nossos agricultores, que expressam a posição francesa desde o início, que consideramos que as contas não fecham e que este acordo não pode ser assinado”, declarou à imprensa antes de uma reunião da União Europeia.

Macron também antecipou que a França se oporá a qualquer “tentativa de forçar” a adoção do acordo com o Mercosul. Entre agricultores franceses, o tratado é visto como uma ameaça, diante do receio de concorrência com produtos latino-americanos mais baratos e produzidos sob padrões ambientais diferentes dos europeus.

Apoio de Alemanha, Espanha e países nórdicos

Enquanto a França resiste, Alemanha e Espanha defendem o avanço do acordo firmado politicamente no ano passado com Argentina, Brasil, Paraguai e Uruguai. O chanceler alemão, Friedrich Merz, afirmou que o tratado é estratégico para a União Europeia.

“Se a União Europeia quiser manter credibilidade na política comercial global, decisões precisam ser tomadas agora”, disse.

Países nórdicos também apoiam o pacto, avaliando que ele pode compensar os efeitos das tarifas impostas pelos Estados Unidos a produtos europeus e reduzir a dependência da China, ampliando o acesso a minerais e novos mercados.

Itália mantém incerteza

A primeira-ministra da Itália, Giorgia Meloni, afirmou que o país pode apoiar o acordo, desde que as preocupações dos agricultores italianos sejam atendidas.

“O governo italiano está pronto para assinar o acordo assim que forem dadas as respostas necessárias aos agricultores, o que depende das decisões da Comissão Europeia e pode ser resolvido rapidamente”, declarou.

Lula diz que premiê da Itália pediu tempo para aprovar acordo

Pouco antes, o presidente Lula (PT) disse ter conversado por telefone com Meloni. Segundo ele, a premiê relatou enfrentar um “constrangimento político” devido à pressão do setor agrícola, mas demonstrou confiança em obter apoio interno.

“Ainda assim, [ela] afirmou estar confiante de que conseguirá convencê-los a aceitar o tratado”, declarou o presidente petista em entrevista coletiva em Brasília.

E completou: “E ela então me pediu, se a gente tiver paciência de uma semana, de dez dias, de no máximo um mês, a Itália estará junto com o acordo. Eu disse para ela que vou colocar o que ela me falou na reunião do Mercosul e vou propor aos companheiros decidir o que querem fazer.”

Lula durante entrevista no Palácio no Planalto em 18 de dezembro de 2025 — Foto: Adriano Machado/Reuters
O presidente Lula (PT) durante entrevista no Palácio no Planalto em 18 de dezembro de 2025. Foto: Adriano Machado/Reuters

Como funciona a aprovação do acordo

A autorização do acordo passa pelo Conselho Europeu, responsável por permitir que a Comissão Europeia ratifique formalmente o tratado. Nessa etapa, é exigida maioria qualificada: o apoio de pelo menos 15 dos 27 países do bloco, que representem 65% da população da União Europeia.

É nesse ponto que se concentra o principal risco político para o avanço do acordo. Embora a resistência esteja focada no agronegócio, o tratado vai além do comércio agrícola e inclui indústria, serviços, investimentos, propriedade intelectual e insumos produtivos, o que explica o apoio de diversos setores econômicos europeus.

A expectativa inicial era de que, com o aval do Conselho, Ursula von der Leyen viajasse ao Brasil para ratificar o acordo ainda neste ano, o que agora não deve ocorrer.