Sóstenes e Jordy bancaram “despesas inexistentes” com cota parlamentar, diz PF

Atualizado em 19 de dezembro de 2025 às 10:40
Os deputados bolsonaristas Sóstenes Cavalcante (PL) e Carlos Jordy (PL). Foto: Reprodução

A Polícia Federal (PF) identificou indícios de que as cotas parlamentares dos deputados bolsonaristas Sóstenes Cavalcante (PL-RJ), líder do PL na Câmara, e Carlos Jordy (PL-RJ) teriam sido usadas para cobrir “despesas inexistentes” e “irregulares”, conforme informações do G1.

A conclusão consta na decisão do ministro Flávio Dino, do Supremo Tribunal Federal (STF), que autorizou a deflagração da Operação Galho Fraco, realizada nesta sexta-feira (19).

Segundo a PF, o esquema de desvio da Cota para o Exercício da Atividade Parlamentar contou com a participação de servidores comissionados dos gabinetes de Sóstenes e Jordy, além do uso de empresas de fachada. A cota parlamentar é uma verba mensal destinada exclusivamente ao reembolso de despesas ligadas ao exercício do mandato.

Os recursos teriam sido sacados e depositados de forma fracionada, sempre em valores inferiores a R$ 9.999, método conhecido como “smurfing”, prática usada para dificultar o rastreamento de recursos e despistar mecanismos de fiscalização. Conversas de WhatsApp obtidas pelos investigadores mencionam, inclusive, “pagamento por fora”.

“Há elementos indiciários de que os deputados federais Sóstenes Cavalcante e Carlos Jordy teriam desviado recursos da cota parlamentar por intermédio dos servidores comissionados, notadamente Adailton Oliveira dos Santos e Itamar de Souza Santana, utilizando, para o sucesso da empreitada, empresas como a Harue Locação de Veículos LTDA ME e a Amazon Serviços e Construções LTDA”, diz trecho da decisão assinada por Flávio Dino.

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O ministro Flávio Dino, do Supremo Tribunal Federal (STF). Foto: Reprodução

Empresas de fachada e atuação de assessores

O despacho aponta que os valores movimentados pelos assessores são elevados e que podem existir outros vínculos ainda não identificados. “Tendo em vista os elevados montantes movimentados pelos assessores parlamentares, é possível que haja outros vínculos ainda não identificados”, afirma o documento, cujo sigilo foi retirado pelo ministro.

Ainda segundo a decisão, diálogos indicam um conluio entre os assessores Itamar de Souza Santana e Adailton Oliveira dos Santos.

“Referida trama visaria conferir falsa aparência de legalidade à contratação da empresa Harue, que seria de propriedade de fato do próprio Itamar e gerenciada por seus familiares com o intuito de receber verbas da Câmara dos Deputados”, registra outro trecho do despacho.

A operação

A atual fase da investigação é um desdobramento da operação Rent a Car, deflagrada em dezembro do ano passado, que inicialmente mirou assessores dos parlamentares. A partir de mensagens de celular, depoimentos e quebras de sigilo, a PF chegou aos indícios contra os deputados.

Ao todo, foram cumpridos sete mandados de busca e apreensão no Distrito Federal e no Rio de Janeiro, expedidos pelo ministro Flávio Dino. A operação apura crimes de peculato, lavagem de dinheiro e organização criminosa.

Durante as buscas, a Polícia Federal encontrou uma grande quantidade de dinheiro em espécie em endereços ligados a Sóstenes Cavalcante. Cálculos iniciais indicam cerca de R$ 430 mil em um dos locais.