Dinheiro do SUS bancou mansão e apartamento de amante de secretário em AL, diz PF

Atualizado em 19 de dezembro de 2025 às 14:38
Andreia Araújo e o secretário de Saúde de Alagoas, Gustavo Pontes. Foto: Divulgação

A Polícia Federal apura um suposto esquema de desvio de recursos públicos na Secretaria de Saúde de Alagoas que teria como principal articulador o secretário e médico Gustavo Pontes de Miranda.

O médico foi retirado do cargo por decisão do TRF-5, no âmbito da operação Estágio 4, que investiga irregularidades em contratações e pagamentos ligados ao SUS no estado. Segundo a investigação, mais de R$ 100 milhões em contratos de obras e serviços de saúde apresentam indícios de desvio.

Para a PF, Gustavo exerceria papel de liderança em uma organização criminosa estruturada dentro da pasta. Parte dos recursos desviados teria sido usada para a aquisição de imóveis em nome de Andreia Araújo Cavalcante, apontada como pessoa próxima ao secretário.

Interceptações telefônicas indicam, de acordo com a PF, que Gustavo e ela mantinham uma relação extraconjugal com “alto nível de intimidade”, sendo descrita pelos investigadores como alguém que se comportava como “verdadeira cônjuge”.

No período de quebra de sigilo bancário, entre janeiro de 2023 e agosto de 2024, Andreia movimentou R$ 4,99 milhões. A PF identificou a compra de uma casa de luxo no Setor de Mansões Park Way, em Brasília, no valor de R$ 1,69 milhão.

Embora o imóvel esteja em nome de Andreia, os investigadores obtiveram documentos em que Gustavo assume formalmente o pagamento das parcelas, incluindo um cheque de R$ 200 mil. Também foi identificado um flat à beira-mar em Cruz das Almas, em Maceió, adquirido por R$ 797 mil.

Agentes confiscaram bens e valores que somam até R$ 1,7 bilhão dos investigados. Foto: Divulgação

A investigação sustenta que os rendimentos declarados por ela são incompatíveis com as aquisições. A mulher é dona de uma pequena loja de roupas com capital social de R$ 5 mil e, segundo a PF, a empresa teve movimentação irrelevante.

Somados, seus salários em dois cargos públicos em Alagoas renderam cerca de R$ 299 mil no período analisado. Os autos apontam ainda que ela recebeu depósitos de empresas prestadoras de serviço à Secretaria de Saúde, algumas sob suspeita de pagamento de propina.

Há registros de repasses feitos por uma construtora, fornecedores de materiais médicos e pelo proprietário da clínica NOT, considerada peça central do esquema. Embora o medico tenha saído formalmente da sociedade da clínica NOT em 2023, a PF afirma que a saída foi apenas “de fachada”.

Após a desvinculação no papel, ele continuou recebendo repasses milionários. A clínica passou a ser credenciada no programa Mais Saúde/Especialidades e apresentou cobranças ao SUS que, segundo os investigadores, superariam sua capacidade operacional.

Em nota, Gustavo negou irregularidades, afirmou nunca ter praticado ilícitos e classificou a operação como um “abuso”. O governo de Alagoas informou a criação de uma comissão especial para acompanhar o caso e declarou que colabora integralmente com as investigações.

Guilherme Arandas
Guilherme Arandas, 27 anos, atua como redator no DCM desde 2023. É bacharel em Jornalismo e está cursando pós-graduação em Jornalismo Contemporâneo e Digital. Grande entusiasta de cultura pop, tem uma gata chamada Lilly e frequentemente está estressado pelo Corinthians.