Lula se reaproxima do Congresso e tensão migra para o Judiciário

Atualizado em 20 de dezembro de 2025 às 23:49
Hugo Motta, presidente da Câmara, Lula e Davi Alcolumbre, do Senado. Foto: reprodução

Após semanas de atritos com o Congresso, o governo Luiz Inácio Lula da Silva (PT) iniciou um movimento de reaproximação com líderes do Legislativo e aposta no recesso parlamentar para consolidar a pacificação.

A avaliação no Planalto é que, enquanto a relação com deputados e senadores tende a se estabilizar, o foco das tensões políticas deve migrar para o Judiciário, em meio a operações policiais contra congressistas e julgamentos sensíveis no Supremo Tribunal Federal.

No retorno dos trabalhos, o Executivo pretende concentrar esforços em uma agenda considerada estratégica, segundo a Folha de S.Paulo. A prioridade será a pauta da segurança pública, com a proposta de emenda à Constituição sobre o tema e o projeto antifacção em tramitação na Câmara.

Também está no radar a aprovação, no Senado, da indicação de Jorge Messias para o STF. Parlamentares avaliam, contudo, que o semestre será curto e com votações mais restritas por causa do calendário eleitoral.

A convivência entre o governo e a gestão do presidente da Câmara, Hugo Motta, passou por momentos de forte desgaste ao longo do ano. Entre os episódios de atrito estiveram a derrubada do decreto do IOF, a escolha de Guilherme Derrite como relator do projeto antifacção, a votação do projeto que reduz penas do ex-presidente Jair Bolsonaro e a chamada PEC da Blindagem.

Na tentativa de distensionar o ambiente, Lula telefonou para Motta para alinhar a pauta econômica e promoveu mudanças no ministério. A nomeação do filho de um aliado do presidente da Câmara, o deputado Damião Feliciano, para o Turismo, no lugar de Celso Sabino, foi interpretada como gesto político e também como reaproximação com o União Brasil. Para Motta, o momento é de normalização.

“Como todas as relações das nossas vidas, você tem aí os altos e baixos, e isso é muito natural, porque cada Poder tem a sua independência, cada Poder tem a sua maneira de agir, tem a sua dinâmica interna. Não está escrito na Constituição que um Poder tem que concordar com o outro em 100% dos pontos”, afirmou na sexta-feira (19).

O presidente da Câmara também reatou com o líder do PT, Lindbergh Farias, após um rompimento que durava desde novembro. “Para mim, o jogo está zerado”, disse Motta após reunião entre os dois. No Senado, Lula prometeu conversar nos próximos dias com o presidente da Casa, Davi Alcolumbre, depois de divergências envolvendo a indicação ao STF, já que o senador defendia outro nome.

O presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), e o deputado Lindbergh Farias (PT-RJ). Foto: Reprodução

A reabertura do diálogo ocorreu após o adiamento da sabatina de Messias para 2026 e também depois da reação do Senado à decisão do ministro Gilmar Mendes que dificultou pedidos de impeachment de magistrados, o que acabou tirando pressão direta do Planalto.

Ainda assim, persistem ruídos, especialmente envolvendo o líder do governo no Senado, Jaques Wagner, que acumulou desentendimentos com Alcolumbre e Renan Calheiros.

Enquanto Executivo e Legislativo buscam acomodação, a tensão entre Congresso e STF segue em alta. Em dezembro, operações da Polícia Federal atingiram aliados do governo, integrantes do centrão e a oposição.

Mandados de busca e apreensão alcançaram assessores ligados ao ex-presidente da Câmara Arthur Lira, por decisão do ministro Flávio Dino, em investigação sobre emendas parlamentares. Mais recentemente, deputados do PL, como Carlos Jordy e Sóstenes Cavalcante, tornaram-se alvos de apurações por suspeitas de desvio de cotas parlamentares.

Apesar do desgaste, um fator ajudou a conter a crise: as buscas ocorreram em endereços pessoais ou funcionais, sem alcançar gabinetes no Congresso, o que costuma gerar maior reação corporativa. Ainda assim, o cenário indica que, em 2026, o desafio do governo será manter o equilíbrio entre articulação política e a escalada de conflitos institucionais com o Judiciário.

Augusto de Sousa
Augusto de Sousa, 31 anos. É formado em jornalismo e atua como repórter do DCM desde de 2023. Andreense, apaixonado por futebol, frequentador assíduo de estádios e tem sempre um trocadilho de qualidade duvidosa na ponta da língua.