Sakamoto: Quem herdará 1,7 milhão de votos de Zambelli e Eduardo em 2026?

Atualizado em 21 de dezembro de 2025 às 7:27
Eduardo Bolsonaro e Carla Zambelli Imagem: Dida Sampaio/Estadão

Por Leonardo Sakamoto, no Uol

Para onde vão os votos que Carla Zambelli (PL-SP) e Eduardo Bolsonaro (PL-SP) tiveram em 2022 na eleição 2026?

Zambelli renunciou para não ter o mandato cassado pelo Supremo Tribunal Federal — a Câmara até trucou e a manteve, mas Alexandre de Moraes gritou seis. Eduardo foi cassado por faltas — deveria ter sido por traição, o que mostra que parte significativa de seus colegas abraçou o subpatriotismo em nome do corporativismo.

Zambelli está, hoje, inelegível, após ser condenada por invadir o sistema eletrônico do CNJ (Conselho Nacional de Justiça), com a ajuda de um hacker, e por perseguir armada um homem pelas ruas de São Paulo, após uma discussão política na véspera do segundo turno de 2022. Ele vai acompanhá-la em breve, uma vez que é réu no STF por coação no curso do processo penal, após tentar garantir, com a ajuda de Donald Trump, impunidade a seu pai, que coordenou uma intentona golpista. Para seu azar, transmitiu provas contra si mesmo via redes sociais.

Em 2022, Zambelli ficou em segundo na eleição para a Câmara dos Deputados em São Paulo, com 946.244 votos. Eduardo Bolsonaro, em terceiro, com 741.701 (em 2018, ele havia sido o deputado federal mais votado do Brasil, com 1,84 milhão). Ambos só perderam para Guilherme Boulos (PSOL), hoje ministro-chefe da Secretaria-Geral da Presidência da República, eleito com 1.101.472 votos

Quando Boulos assumiu o ministério, com a sinalização de continuar no cargo até o final do governo Lula, não foram poucos os analistas avaliando que o PSOL terá um problema em São Paulo sem o seu grande puxador de votos. Mas a pergunta também serve ao PL, uma vez que ambos também foram puxadores de votos, somando 1.687.945 eleitores.

Em 2022, o PL conquistou 17 das 70 vagas em São Paulo para a Câmara. A segunda maior bancada eleita no estado foi a do PT, com 11 vagas.

Guilherme Derrite (PP-SP) possível candidato ao Senado pela extrema-direita em SP. Foto: Brenno Carvalho/Agência O Globo

Entre os eleitos pelo PL, em quarto, ficou Ricardo Salles, que, posteriormente, voltou para o Novo. Na sequência, o partido de Valdemar Costa Neto elegeu também o 11º colocado, Guilherme Derrite, que passou a maior parte do mandato como secretário de Segurança Pública de Tarcísio de Freitas, e, agora, pode disputar o Senado Federal.

Ainda aparecem entre os 30 mais votados Marco Feliciano (17º), Rosana Valle (19º), Marcio Alvino (23º), Capitão Augusto (28º) e Paulo Freire da Costa (30º).

Apesar de o clã contar com aliados próximos entre seus correligionários, em São Paulo, não haverá um Bolsonaro para puxar votos por aqui. Carlos está migrando do Rio de Janeiro para Santa Catarina, a fim de tentar o Senado. Michelle, se não conseguir ser vice de Tarcísio de Freitas, vai buscar ser senadora pelo Distrito Federal. Flávio, se não disputar a Presidência, tentará a reeleição pelo Rio de Janeiro. Laura é muito jovem. E o vereador Jair Renan não conta.

Para onde vão os votos de Zambelli e Eduardo? Vão se distribuir pelo mesmo partido? Eventuais novos candidatos, incluindo os prometidos influenciadores, a serem apresentados ao eleitorado pelo PL, terão a mesma força que os dois? Emendas parlamentares são importantes, mas em um contexto como o de São Paulo, com peso de voto ideológico, nomes conhecidos contam.

À frente de uma chapa presidencial, Flávio, Tarcísio, Michelle, entre outros, teriam potencial parecido para ajudar a eleger bancada? Porque isso faz toda a diferença na cabeça de deputados que, em última instância, estão mais preocupados com sua própria reeleição do que com a eleição de um presidente do seu partido.

A ausência de Zambelli e Eduardo expõe um dado incômodo para o PL: bolsonarismo sem Bolsonaro é um ativo bem menos previsível. Parte desses votos deve se dispersar entre candidatos do próprio partido, outra pode migrar para legendas vizinhas no campo conservador, e uma fração simplesmente evaporar, como costuma acontecer quando o carisma do “puxador” não é transferível.

A eleição de 2026 em São Paulo será, para o PL, um teste: descobrir se construiu um projeto político com capilaridade própria ou se apenas surfou, até aqui, na popularidade de sobrenomes que já não estarão na urna. E deputados sabem disso. Por isso, mais do que ideologia ou fidelidade, o que vai orientar decisões nos bastidores é a velha pergunta pragmática: quem garante voto suficiente para manter cadeiras e poder.